domingo, 8 de fevereiro de 2009

A Crise econômica e o FED

Uma das postagens mais recentes do blog de Luís Nassif apresenta uma informação interessante: O mercado está preocupado com os custos do plano de recuperação da economia estadunidense e já começa a pressionar o FED no intuito de que esse cumpra a promessa de recompra de títulos do tesouro. Isso não é pouca coisa, é o sinal de que cai por terra uma das maiores fraudes da história econômica mundial, a pretensa onipotência econômica dos EUA.

A crise econômica mundial foi causada pela evolução tortuosa do capitalismo e pelo modo no mínimo perturbadora que o processo de globalização foi conduzido, no entanto, o gatilho dela está lá no centro do sistema, nos EUA, e ele foi disparado por dois motivos diferentes e ao mesmo tempo conexos: O primeiro foi que o governo Bush acreditou na mentira que era contada desde os tempos de Reagan, que não importa o que os EUA fizessem, o "mundo" sempre financiaria a economia, o segundo dizia respeito ao mito da desregulamentação dos mercados financeiros e suas consequências benéficas.

Não resta dúvida que essas duas narrativas carentes de cientificidade eram carros-chefes da propaganda daquele país, idealizadas por pessoas que sabiam exatamente o que estavam dizendo e difundida por pilhas de idiotas úteis. Nunca saberemos se o próprio Reagan acreditou nisso e algo parecido podemos dizer de Bush pai e Clinton, no entanto, eles não procuraram descobrir se os limites dos EUA eram mesmo infinitos, ainda que tenham feito vista grossa para as questões tangentes à financeirização.

O fato inegável é que de alguma maneira, Bushinho realmente acreditou nisso. Sim, é uma questão que envolveu oportunismo da parte dele ao ter feito uma farra lascada com o dinheiro público ao mesmo tempo que permitia e incentivava uma farra danada em Wall Street, sem imaginar as consequências maléficas disso - muito pelo contrário, esperava arrumar, quem sabe, até alguns bons financiadores de campanha -, mas há muito de credulidade, de incompetência mesmo.

Com o mercado financeiro completamente desregulamentado e as contas nacionais estouradas - via déficits gêmeos -, um desastre era questão de tempo. Bush e seus neocons só conseguiam pensar que os EUA ocupavam a centralidade do sistema econômico mundial, mas esqueceram - ou nunca tiveram consciência - de que esse sistema tem limites e que os EUA não emitem moeda mundial coisa nenhuma, emitem o dólar, que, por ora, é moeda hegemônica.

E a crise econômica se revelou via crise do mercado imobiliário - resultado da desindustrialização do país, concentração de renda e, sobretudo, da debilidade estatal em lidar com isso - que desembocou no intrincado imbróglio envolvendo os CDO's e a consequente falência de gigantescos bancos de investimento, o que era só a ponta do iceberg: Em decorrência da falência dos grandes bancos de investimento, a verdade sobre a "prosperidade" de alguns países foi revelada - países inteiros como a Islândia, estavam construídos sobre o nada.

A crise também revelou que a economia estadunidense tem limites. Quem nunca pôde entender isso na teoria, hoje está entendendo empiricamente. Admita-se ou não, o mercado não olha para os títulos do tesouro daquele país com os mesmo olhos que olhava há um ano. Falta confiança e ele se aproveitará disso para cobrar cada vez mais para financiar esses déficits, o que terá um impacto cada vez mais pesado na vida do nova-iorquino médio ou do texano ranheta.

Não há outra saída para os EUA que não envolva uma política de reequilíbrio nas contas nacionais, insistir em tomar medidas heterodoxas de impacto, tapam o buraco agora, mas lá frente não fazem a menor diferença. O mercado não terá piedade dos EUA, afinal de contas, desde a segunda revolução industrial, a vanguarda do capitalismo não precisa mais dos Estados-nacionais como precisava lá atrás quando a burguesia apenas se formava.

Dos fins da idade média pra cá, rompeu-se o invólucro do Estado-nacional e eles só foram necessários novamente quando da luta contra o comunismo. Hoje, nesse capitalismo pós-industrial que vivemos, os Estados-nação são necessários para a vanguarda do capitalismo apenas enquanto fantoches nos seus jogos, e o único interesse deles em sua existência está em evitar a globalização política, que poria fim aos "pontos cegos" da regulação econômica mundial. Com os EUA não é diferente, são um país muito poderoso, mas não deixam de ser um país.

Portanto, Obama não terá uma vida fácil, medidas que soem populares - ou menos impopulares - agora, podem não ser a solução dos problemas, é preciso cortar na carne, principalmente se levarmos em conta que estamos falando de um país cuja população se acostumou em poder viver além de suas capacidades produtivas - via crédito barato - e além de suas recursos públicos - com o Estado mantendo déficits nos últimos anos. Bush testou os limites dos EUA e não apenas os descobriu como os ultrapassou perigosamente, não somente enfraquecendo o país como fazendo todos perceberem essas fraquezas. Agora, Obama terá a dura missão de fazer a retirada do campo minado e ela não será nada divertida.

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