quinta-feira, 16 de abril de 2009

A Europa e a Crise Mundial


Prosseguindo o tour que esse blog anda fazendo pelo mundo em Crise, abordo hoje como anda a situação da Europa em meio a tudo isso. Vale dizer de antemão que ela não é nada boa. Não que isso seja alguma novidade, afinal, assistimos nos últimos tempos uma economia europeia estagnada mesmo num período de certa prosperidade econômica, agora com essa situação nada favorável da economia global, o que se vê é o agravamento dessa situação.

Mais do que uma crise econômica, é uma crise no sistema político-partidário. Como coloquei num comentário meu para o blog do Nassif que ele acabou dando destaque, a situação transcende a problemática econômica e se conecta ao beco sem saída da política europeia nos últimos anos; na Europa Ocidental, isso se manifesta com o fracasso dos partidos democratas-cristãos e da direita democrática de um modo geral somado a fragmentação e a confusão mental e a paralisia que domina a esquerda por aquelas bandas - isso é extremamente perigoso na medida em que fortalece cada vez mais movimentos radicais de extrema-direita em todos os países da região.

Por outro lado, na Europa Oriental, o sistema político-partidário forjado após o socialismo parece insuficiente e incapaz de responder as demandas desse período atual; Líderes reacionários e nem sempre idôneos que ainda por cima se mostram pouco interessados em avançar com um projeto europeu - e que sempre serviram muito mais ao interesse americano do que o da UE - dominam a cena local. Na pós-URSS, como já adiantei por aqui, a situação chega a ser mais dramática: Governos pouco democráticos e entusiastas de um nacionalismo bem arcaico operam numa verdadeiro campo minado étnico em uma situação de crise bem aguda: A Rússia deve perder por volta de 5% do seu PIB ano que vem, a Ucrânia, por volta de 9%.

No que toca mais especificamente a UE, a falta de coesão desse verdadeiro leviatã que representa um PIB maior que o americano (com 21,7% da economia mundial contra 20,6% dos americanos) é nítida; a falta de capacidade do bloco em lançar mão de ações integradas para combater a crise - somada ao instinto suicida de pular do barco de alguns líderes eurocéticos - pode levar a uma queda ainda maior da importância relativa da Europa em relação ao mundo e até mesmo a consequências perigosas como não é incomum por ali, infelizmente.

3 comentários:

  1. Li seu comentário no blog do Nassif e achei excelente. Só não postei um comentário lá porque já era madrugada quando li, então ele só iria liberar amanhã e aí já era. Uma análise irretocável. Agora, a pergunta que não quer calar: que fim levou a esquerda européia? Será que nem essa crise estruturamente ligada ao neoliberalismo vai fazê-la ressurgir, ainda que pontualmente?

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  2. Muito obrigado, Mauricio. Aliás, o que houve com a esquerda europeia é uma boa pergunta e uma dúvida que também me aflige. Fazendo uma investigação dos países que eu conheço um pouco melhor a política, nós temos:

    1.Rússia: O que se identifica por ali como esquerda é justamente o Partido Comunista local, uma excrescência stalinista profundamente esquizofrênica como eu dissertei no meu sobre a Crise e a Rússia. O Partido Nacional-Bolshevik não fica atrás e é mais pirado ainda.

    2.Alemanha: O SPD entrou naquela onda do Blair de esquerdinha moderninha pós-Guerra Fria que não é nada muito diferente dessa piração que nós tivemos aqui no governo FHC, só que pretensamente mais sofisticada. Do governo Schröder, a única coisa que vale a pena ressaltar foi sua postura corajosa quando da invasão iraquiana e nada mais.

    3.Reino Unido: Não acho Brown tão tosco quanto Blair - e até o respeito em alguns pontos -, mas o x da questão é o dano que o New Labour causou ao lançar essa tendência de líderes esquerdistas "moderninhos", mas que fora a papagaiada e o discurso fácil executam uma política tacanha e insuficiente - se Blair era uma figura repugnante, olhe para os líderes Ibéricos, seus sósias políticos, José Sócrates em Portugal e Zapatero na Espanha, e verá o horror, o horror...

    3.França: Depois do governo Mitterrand, com seus defeitos e suas contradições, a esquerda francesa jamais se acertou. Qual o líder esquerdista francês capaz de aglutinar minímas forças em torno de si, hoje em dia? Qual o grande intelectual de esquerda capaz de fugir ao lugar comum francocentrismo e de uma xenofobia mais ou menos velada? Sarkozy é uma figura patética e, mais do que isso, sua eleição teve um simbolismo muito ruim para a França e para a Europa dada sua política para os imigrantes, mas não houve um líder socialista ou comunista capaz de levantar a voz e responder isso a altura.

    4.Itália: Você conseguiria imaginar Sílvio Santos eleito Presidente do Brasil? Eu não - por mais que conheça e reconheça as nossas limitações políticas e culturais. Mas os italianos conseguriam eleger Berlusconi e o fizeram porque o Partido da Esquerda (ex-Partido Comunista) está esmagado - olhe que eu não acho injusto o destino desse partido; os comunistas italianos foram muito oportunistas ao mudarem o nome do seu partido na época do fim dos países socialistas. Se acreditavam no que defendiam, deviam fazer sim uma crítica construtiva do que estava acontecendo no Leste Europeu e não ter buscado se esconder - à la Roberto Freire. Isso custou caro. O PCI era uma agremiação importante porque sempre adotou linhas de pensamento e atuação bastante independentes e relevantes no cenário político do comunismo, mas seus líderes nos fins dos anos 80 não estiveram a altura daquele momento histórico e jogaram sua história no lixo.

    Há muita coisa mais, uma crise na social-democracia nórdica, a não-política do Leste Europeu - em especial com os reacionários da Polônia e da República Tcheca - mas eu fiquei só nos exemplos emblemáticos. Enfim, a coisa tá feia.

    abraços ;-)

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  3. Hugo,

    Ao menos no caso da Espanha e da França há um contraponto. Na França basta olhar para o Europe Ecologie, do Bové e outros, de Esquerda e ecologista. Ali ainda há espaço para debate e os ecologistas estão tomando o lugar do PS, que é uma piada.

    Na Alemanha muitos imaginavam que o Die Linke iria conseguir alguma coisa, foi uma decepção e nos demais, bem, quase carta marcadas, a exceção na Grã Bretanha talves ficando com a Escócia e o SNP, de Esquerda.

    No mais, Esquerda mesmo só conseguiu alguma coisa na Escandinávia, onde é tradicional e palmas para o Partido Pirata Sueco!

    Rússia é uma Lástima, ou vocÊ é pró-Putin ou você é pirado, o que dá no mesmo. Aliás, o Nacional-Bolchevismo é MUITO engraçado, o que impressiona é ser levado à sério!

    MAs cá entre nós, a derrocada da esquerda não me surpreende e não acho, em si, algo rui, forçará uma reinvenção, espero.

    O caso Russo eu já vejo de forma diferenciada, eles passarma por uma ditadura de "esquerda", por Stálin e não faz tanto tempo estavam na latrina do mundo, quase acabados. Fica complicado levantar bandeiras de Esuqerda genuínas por lá ou levantar qualquer bandeira contra quem salvou a rússia, querendo ou não, o Putin.

    NA França o PS morreu, a cada dia cai mais e não acho ruim, hoje o PS virou partido de patricinha - veja a Royal - e não tem projeto algum. Talvez apanhando consiga voltar a pensar. Os Trabalhistas estão acabados, adotaram uma agenda de Terceira Via, contaminaram tudo e todos e estão finalmente sofrendo as consequências, ou se reinventam ou vão morrer.

    Na Espanha, apesar do quase bi-partidarismo, há de se levar em conta o ERC, Aralar e a Esquerda Nacionalista Basca, que conseguiram algum espaço e ainda há como crescer.

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