sábado, 27 de junho de 2009

A Queda de Luxemburgo e Um Pouco de Palmeiras

O futebol tem das suas ironias. Creio que em sua quarta passagem pelo Palmeiras, Luxemburgo cometeu erros demais, principalmente depois do título paulista de 2008; foram erros que envolveram desde a quase expulsão de Valdivia para o futebol árabe até os frequentes bate-bocas públicos com Marcos, passando, claro, pela indicação de pilhas de atletas que o Palmeiras desnecessários, coisa que as divisões de base poderiam muito bem dar conta de suprir.

Luxemburgo não caiu por nada disso.

Qual não foi a minha surpresa quando me deparei com esse post no blog do Luxemburgo hoje de manhã. Vandeco Luxemba caiu por ter "quebrado a hierarquia" ao ter declarado publicamente que se Keirrison não fosse para o Barcelona, ele não jogaria mais com ele por conta da forma que o jogador levou adiante as negociações, quebrando um "pacto" que ele firmou com o treinador no que tocaria a sua permanência no clube até o meio do ano que vem.

Sobre a atitude de Luxemburgo, todo o meu apoio. Keirrison conduziu sua saída de uma maneira muito, mas muito ruim mesmo. Antes disso, não parava de reclamar com a torcida pelas cobranças por conta da sua misteriosa queda de rendimento na época em que surgiram os primeiros boatos de sua ida para a Catalunha. Tinha firmado um pacto com o treinador e de repente saiu quando foi mais conveniente. O treinador não poderia mesmo aceitar o jogador de volta caso as negociações emperrassem, se ele já estava entrando em campo com a cabeça fora dos gramados, imagine só agora.

A declaração de Luxemburgo foi precisa e corretíssima. Felipão teria feito o mesmo. Muricy, que é cotado para assumir o Palmeiras, faria o mesmo. Se a diretoria do Palmeiras deixou de demitir Luxemburgo pelas dezenas de motivos pelos quais ele deveria demitido e o demitiu por isso, só posso dizer uma coisinha: O buraco, no Palestra Itália, é mais embaixo do que se pensa.

Até os distantes fins dos anos 70, o Palmeiras era o time disparadamente mais vencedor de São Paulo e único clube a fazer frente ao Santos de Pelé de maneira ininterrupta. De repente, não mais do que de repente, a nova geração de dirigentes não foi capaz de assumir o manto à altura e o Palmeiras se apequenou: Nos anos 80, o alviverde foi reduzido à mediocridade, não ganhou nenhum título, passou longe, muito longe de figurar entre os melhores. Isso prosseguiu até os 90, mas a parceiria com a Parmalat rendeu frutos e devolveu, aparentemente, o time a sua era de ouro.

Sobre a égide da parceiria com Parmalat - planejada por nosso amigo Beluzzo, diga-se de passagem -, o time montou uma estrutura vitoriosa, mas uma estrutura completamente artificial; ao contrário do São Paulo que se fortaleceu internamente, o Palmeiras reproduziu em si o modelo do desenvolvimentismo dependentista que faliu o Brasil. Saiu a Parmalat e não deu outra: Voltamos aos anos 80, dessa vez com direito a rebaixamento e tudo mais.

A "solução" para isso vem novamente pelas mãos do nosso maior quadro, Beluzzo - sem ironias, afinal nossos demais amigos cartolas verdes nunca gostaram de futebol mesmo -, via "bolsa de atletas" e depois a parceiria coma Traffic do nosso bom camarada J. Hawilla; no fim das contas, nada de fortalecer as estruturas do clube, basicamente, o novo mote era se aliar com uma empresa especializada em venda de atletas, entre outras coisas para servir como vitrine. Com sorte nos aproveitaríamos disso e ganharíamos alguns títulos.

O que se viu, no entanto, é o eterno entre e sai de jogadores, a vinda de pilhas e pilhas de atletas sem muita qualidade e um clube arrendado.

Keirrison, revelação do futebol paranaense, sempre me pareceu um jogador promissor, uma espécie de Dagoberto com mais recursos, mas sempre lhe faltou aquela alegria de jogar e aquela sinergia com a torcida. Nesse aspecto, lembrava um Dodô, um Ricardinho ou mesmo o próprio Dagoberto. Basicamente, o Palmeiras foi a sua ponte áerea para o futebol europeu.

Enquanto a Traffic se matou para trazer Keirrison, um jogador como Kléber não foi priorizado e acabou no Cruzeiro. Isso deixa claro o seguinte, a parceiria com a dita empresa só ajudará o Palmeiras no momento em que os interesses convergirem, em caso de não convergência, prevalecem os interesses da empresa.

Os problemas estruturais do Palmeiras não serão resolvidos por uma mera troca de treinadores, eles são graves e não há renovação no corpo de dirigentes que aponte para uma saída a curto prazo. Para o Brasileirão, as chances que já eram pequenas, se apequenaram ainda mais agora que o time vai passar por uma reestruturação.

6 comentários:

  1. Olá Hugo.

    Não tenha dúvida. Essas parcerias são muito desequilibradas: beneficiam muito mais o parceiro que o clube. Mas acho que a história do Keirrison foi a desculpa da diretoria do Palmeiras para demiti-lo. Sobre o Keirrison, concordo contigo. Muito promissor, mas falta aquela faísca. Parece um pouco com o Dodô mesmo nesse aspecto. Abraços. Marcelo Costa.

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  2. Marcelo,

    É isso mesmo,o único modo de um clube ser minimamente funcional é criar estruturas que lhe permitam andar com as próprias pernas - até onde essa conjuntura desfavorável permita. Isso, no entanto, não ocorre aos dirigentes palmeirenses.

    Sobre o Luxemburgo, o fato é que já queriam mesmo demitir ele há um tempo, mas isso só aconteceu quando ele meteu a colher e mostrou como o Palmeiras é refém das ocasiões. a demissão dele foi tosca e veio em um mau momento. Jogar um clássico como o de hoje com interino é horrível e tenho dúvidas sobre o quanto Abelão ou Muricy poderiam resolver nossos problemas.

    O Keirrison é isso daí mesmo.

    abração

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  3. Luxemburgo sempre foi ególatra, narcisista e sempre se considerou 'o último oásis do deserto'. Mesmo assim, ele é o segundo treinador que mais comandou o Palmeiras na história, ficando atrás apenas de Oswaldo Brandão. Esta foi a 4a. vez que Luxemburgo foi treinador do Alviverde. Assim, creio que a diretoria do Palmeiras conhece Luxemburgo muito bem.

    Então, Hugo, estou convencido, tal como você apontou, de que o comentário de Luxemburgo sobre a saída de Keirrison foi o que menos pesou na hora de mandá-lo embora. Eles queriam se livrar dele, mesmo, como você afirmou.

    Tenho comentado contigo de que Luxemburgo é um técnico caro demais para os padrões do futebol brasileiro. Pelo que andei lendo ele e a sua comissão técnica ganhavam R$ 1 milhão mensais.

    E segundo o jornal 'Lance!', o déficit mensal do Palmeiras é de R$ 2 milhões mensais. Assim, Luxemburgo e cia. eram, sozinhos, responsáveis por metade do déficit do Palmeiras. E pelo que ele ganhava, vencer apenas 1 Paulistão em cerca de 18 meses é muito pouco.

    Luxemburgo, me parece, quer cobrar dos clubes mais do que ele vale e mais do que ele merece pelos títulos que conquista.

    Se continuar agindo assim, dificilmente ele terá mais espaço em grandes clubes do futebol brasileiro, que estão, praticamente todos, com graves dificuldades financeiras. Somente dirigentes malucos irão querer contratá-lo.

    Nenhum clube brasileiro tem mais condições de ficar pagando tanto por um técnico que ganha tão poucos títulos.

    No começo da semana passada ouvi numa emissora de rádio que o Palmeiras queria reduzir os gastos com a sua comissão técnica em 20%. E é claro que Luxemburgo não aceitaria uma coisa dessas, pois ele quer ganhar sempre mais. Quando ouvi a notícia, pensei comigo: o Luxemburgo está com os dias contados no Palmeiras. Não deu outra!

    Sou dos que pensam que o elenco do Palmeiras é bom, sim, quando se pensa na realidade atual do futebol brasileiro. Não há nenhum timaço no Brasil atualmente. Temos várias equipes que estão mais ou menos dentro de um mesmo nível: Corinthians, Palmeiras, Inter, São Paulo. Aliás, quanto ao tricolor, acho que o time irá engrenar somente agora, que o Muricy saiu, pois o trabalho deste em 2009 foi muito ruim. Ele não deu padrão de jogo para o São Paulo e nem definiu um time titular e já estamos no meio do ano.

    Quanto ao Palmeiras, o time foi eliminado da Libertadores jogando melhor do que o Nacional. Para mim, se contratar um bom técnico, o Palmeiras terá tudo para ficar entre os 4 primeiros deste Brasileirão.

    E pelo que Obina mostrou ontem no empate contra o Santos (aliás, empatou porque teve 2 pênaltis para o Palmeiras que o árbitro não marcou) a torcida não sentirá muita falta de Keirrison, não.

    Abraço

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  4. Marcos,

    Sobre o trabalho de Luxemburgo, concordo plenamente; apesar de seu talento indiscutível, ele consegue arruinar tudo por conta do seu narcisismo pueril. No entanto, acho que Luxa irritou sim os hierarcas verdes nesse episódio Keirrison; a pândega nomenklatura verde tem uma tolerância inacreditável com a incompetência alheia, mas é bem sensível quando alguém põe o dedo nas suas feridas.

    Quanto ao Obina, espero que você esteja certo, mas tenho minhas dúvidas quanto a isso.

    Sobre o Muricy, ele foi vítima de um complô de atletas e de um presidente egomaníaco que não lhe deu o devido respaldo. Olho pro Ricardo Gomes, mas tenho dúvidas até que ponto que ele pode levar esse São Paulo; claro, ele terá uma estrutura que poucos técnicos terão, mas...

    abraços

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  5. Hugo, pelo que um amigo me disse o problema do Obina nunca foi futebol... ele parece que sempre teve problemas extra-campo (leia-se cach..aça). Se ele resolver esse problema, ele ainda fará muitos gols.

    Aliás, o gol injustamente anulado do Obina contra o Atlético-PR foi o gol mais bonito que eu vi esse ano no futebol brasileiro e mundial. Jogador ruim não faz gol daquele jeito, não.

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  6. Marcos,

    Mas eu não acho o Obina um mau jogador, simplesmente não creio que ele seja capaz de resolver os problemas ofensivos de um time do tamanho do Palmeiras. Claro, espero que o amigo esteja certo.

    abração.

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