segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Zerkalo - Tarkovsky contra o Espelho


(Poster do Filme: A bela Margarita Terekhova, a Mãe)

Honestamente, creio que todas as obras artísticas são, de certo modo, autobiográficas. É o nosso ser que está refletido na nossa arte, não apenas o nosso conhecimento e a nossa forma de ver o mundo como também as nossas experiências transcritas por meio de símbolos. No entanto, há obras onde isso é deliberado - e é isso que convencionamos por autobiográfico. É nessa categoria na qual se encontra a película tarkovskiana Zerkalo ("espelho" em russo) - entretanto, essa obra é mais conhecida no Brasil pelo seu título em inglês, "Mirror", o que é curioso e sintomático.

O espelho do título, no fim das contas, se refere ao processo onde a vida do próprio cineasta acaba transposta para o plano especular: Da realidade "concreta" para o o lado inverso, para o cinema. Se em Andrey Rublyov temos uma alegoria onde o próprio Tarkovsky, usando a máscara do célebre artista medieval e santo, faz um manifesto em favor do valor transcendental da arte - inclusive como forma de romper com a opressão política denunciada -, aqui ele volta à sua própria infância para, da discussão da sua relação com sua mãe e os traumas de sua infância, trazer à baila a questão da maternidade e a infância. Nas palavras do próprio autor:

"Este filme é sobre as mães, sobre sua vida difícil, cheio de esperanças, desgraças e felicidades. É também sobre a nossa infância e sobre a angústia que ela nos deixou"

Porém, na medida em que a película avança, percebe-se que o debate sobre a maternidade e a infância, por mais centrais que pareçam, servem apenas como meio para se refletir sobre a intrincada questão da espiritualidade do homem contemporâneo - na verdade, ambas se apresentam enquanto meras alegorias para se chegar a tanto. Essas duas alegorias centrais, diga-se, não foram fruto do nada: As duas foram muito caras para a construção da própria espiritualidade do autor e a sua busca pelo transcender por meio da experiência sensível gerada pela arte; foi a figura forte - e cristianíssima - de sua mãe na sua infância que moldaram muito do artista que ele veio a ser.

O filme também não deixa de ser político: Nele, há cenas preciosas como a da crítica à censura soviética, quando Natália (A Mãe, interpretada magistralmente por Margarita Terekhova) corre desesperada para uma tipografia por temer que determinada palavra aparentemente tivesse sido publicada - também temos as cenas da Segunda Guerra e mais tarde flashs sobre a própria tensão na fronteira sino-soviética, uma visão verdadeiramente apocalíptica.

A espiritualidade incontida do jovem Alexei (Ignat Daniltsev) , filho de Natália - e a máscara com a qual Tarkovsky intervém na sua Obra -, se mostra desde os constantes incêndios que ele provoca - o fogo enquanto símbolo da presença misteriosa de Deus - até as experiências paranormais pelas quais ele passa - ou pelos intrincados quadros oníricos que se apresentam.

A figura paterna, sempre distante, se apresenta como uma voz distante que raramente revela sua imagem e se configura como uma antítese à figura materna - sempre tão próxima e tão terna - e, ironicamente, as poesias de Arseny Tarkovsky, pai do autor, são lidas ao longo do filme num exercício de uma metalinguagem muito a frente de seu tempo; no fim das contas, a personalidade de Alexei/Tarkovsky é forjada da tensão dialética entre a figura paterna e a figura materna - e à sombra de uma latente síndrome de Édipo.


Enfim, é mais uma assombrosa obra do mestre russo - para ser vista e revista.


domingo, 30 de agosto de 2009

São Paulo 0x0 Palmeiras

Jogo equilibrado, empate justo, mas um São Paulo ligeiramente superior - mais ou menos como eu previ ontem. A atuação lapidar de Marcos, no entanto, garantiu o placar - e em menor grau pode se dizer o mesmo da atuação de Rogério Ceni. O verde foi melhor nos dez primeiros minutos, mas o São Paulo adiantou a marcação e teve três chances claras de gol nos vinte minutos seguintes - as três com participação de Dagoberto, mas neutralizadas pelas santas luvas desse monstruoso goleiro que é Marcos. O São Paulo mostrou no seu 3/5/2 o futebol firme de 2006/07 e do Segundo Turno de 09. No intervalo, Muricy corrige o 3/5/2 defeituoso e a entrada do cada vez mais imprescindível Souza leva o faz o time jogar num 4/3-2/1 - assim, o time de Palestra Itália conseguiu absorver o ímpeto ofensivo do rival, apesar da excelente modificação de Ricardo Gomes (a saída de Hernanes para entrada de Arouca). Finalmente Rogério Ceni trabalhou no jogo; depois saiu Cleiton Xavier que jogou sacrificado para a entrada de Deyvid que poderia ter aproveitado melhor a oportunidade. Creio que o placar se consolidou mesmo quando Ricardo Gomes afundou o esquema tricolor com a saída de Dagoberto - melhor jogador tricolor em campo, apesar da queda de produção na segunda etapa - para a entrada do meia Hugo: Meio de Campo embolado de lado a lado e fim de jogo. Pesados os prós e os contras, o empate foi um bom resultado para o Palmeiras tanto por ter jogado no Morumbi quanto por barrado a ascenção do rival - mais do que isso, com o retorno de Vagner Love, a equipe vai aumentar consideravelmente seu poder ofensivo, ora limitado pela irregularidade dos esforçados Obina e Ortigoza. O São Paulo, no entanto, passa longe de estar morto.

Atualização das 20:37: O Inter enfiou uma sonora - e inesperada - goleada no Goiás: 4x0. Graças a isso, o Palmeiras continua na liderança e o Colorado volta à baila no Campeonato Brasileiro mais equilibrado dentro todos aqueles disputado no sistema de pontos corridos.

sábado, 29 de agosto de 2009

22ª Rodada do Brasileirão

Uma rodada bem interessante, sem dúvida, afinal, os times do G-4 vão se enfrentar. O Campeonato se aproxima da sua reta final e o cenário de quem luta pelo título, por Libertadores, Sul-Americana ou contra o rebaixamento se define. No fim das contas, a janela europeia pode não ter poupado as equipes como todo ano, mas pela primeira vez em muito tempo, na média saímos mais fortes do que entramos - os times se bangunçaram, mas se perderam atletas também trouxeram outros tantos -, um reflexo claro da intensidade da Crise econômica na Europa.

Desta rodada se destacam:

O líder Palmeiras e o ascendente São Paulo farão um clássico agitado no domingo; no Primeiro Turno, se o alviverde vivia os últimos momentos da era Luxemburgo, o tricolor vivia o mesmo em relação à era Muricy Ramalho - hoje, técnico palmeirense - e ainda se prestavam a disputar a Libertadores que vieram a perder. Empataram em 0x0 num jogo cujo placar fez jus ao futebol apresentaddo. Desta vez, creio que teremos um jogo melhor e bem mais tenso: O São Paulo que tenta se afirmar sob o comando de Ricardo Gomes sob a sombra do seu ex-técnico agora do outro lado; o Palmeiras que trouxe Muricy, manteve o elenco e ainda trouxe reforços - inclusive Vagner Love - precisa ganhar o jogo porque ele é no mínimo um grande passo para pôr fim ao jejum de quinze anos sem levantar a taça do Brasileirão. É jogo equilibrado com leve vantagem para o São Paulo por conta do mando.



Também teremos Inter x Goiás em Porto Alegre; no Primeiro Turno, vitória de um embalado colorado por 1x0 em Goiânia. De lá pra cá, o time gaúcho desacelerou e perdeu o ritmo frenético original, titubeou, depois voltou para o páreo, mas perdeu um jogo chave contra o Palmeiras na última rodada e precisa ganhar aqui. O Goiás, por sua vez, subiu de produção assustadoramente do início do campeonato para cá e foi montando devagarzinho o seu melhor elenco desde 2005. É jogo durissímo, mas não duvidaria que o Goiás devolvesse a derrota do Primeiro Turno.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sobre a Burocracia

(Umberto Boccioni La città che sale, 1910)

"Na verdade, a ideologia da Tecnoburocracia (configuração da Burocracia no atual ciclo do Capitalismo monopolista) enquanto um sistema político-econômico inerente às novas forças produtivas revela no dizer de L.C.B. Pereira, determinadas características nucleares, como: a) proclama não ser ideológica; b) não deriva da tradição ou da revelação, pois é produto do racionalismo moderno; c) proclama a eficiência e a maximização dos resultados; d) enquadra-se dentro de um conservadorismo reformista que admite tão somente a revolução tecnológica; e) advoga, como pré-condição de existência, um estado de segurança; f) expressa valores autoritários, desconsiderando práticas autoritárias; g) resolução de problemas pela competência e eficiência técnica; h) defende uma visão de mundo integrada e harmoniosa, excluindo a historicidade dialética embasada nas contradições de classe e nos conflitos de grupos sociais; i) valorização extremada da múltiplas formas de consumo.

A burocracia se alicerça numa dimensão alienadora, mecanicista e desumanizadora, não se coadunando com as consubstanciais necessidades e exigências do indivíduo. A pseudo-eficácia dos procedimentos tecnoburocráticos fragmenta e obscurece o potencial criativo do homem, assumindo, cada vez mais, proporções profundas e persistentes, abandonando-se de áreas que jamais poderiam imaginar. Suas malhas envolventes se alastram em todos os setores da atividade humana."


Ideologia, Estado e Direito, p. 61, Antônio C. Wolkmer.

Um belo livro, uma bela provocação, concordo com quase tudo - e me preocupo com os rumos do mundo olhando para isso. A "burocracia" a qual se refere Wolkmer, no fim das contas, é uma ideologia que perpassa os mais variados espectros da política contemporânea e se imiscue nos mais variados setores: É, no fim das contas, uma derivação do conceito de Aristocracia só que adequado e moldado às necessidades da dinâmica capitalista, mas também responsável por engolir o leviatã soviético - portanto, trata-se de um fenômeno que decorre da organização estabelecida no industrialismo e não foi superado sequer pela Revolução Russa, não obstante todo seu potencial emancipatório. Desse modo, liga-se ao capital e não ao capitalismo - sim, são fenômenos distintos como diria um certo Mészarós.

domingo, 23 de agosto de 2009

O Andrey Rublyov de Tarkovsky

(poster do filme)

O Andrey Rublyov histórico foi um monge e pintor de ícones religiosos, afrescos e iluminuras que viveu entre os séculos 14º e 15º nas terras que mais tarde viemos a chamar de Rússia. Ele foi discípulo de Teofanes, o Grego e trouxe a influência bizantina de seu mestre, mas, tão logo, a superou - o que não é estranho a tudo que envolve o cristianismo russo e mesmo a cultura russa daqueles tempos. Ele foi canonizado em 1988 pela Igreja Ortodoxa. São poucos os detalhes que se conhecem sobre a sua vida e sua obra são as pistas que temos - como este Ícone da Trindade ao lado.

Mas há outro Rublyov, o cinematográfico, aquele do filme homônimo de um certo Andrey Tarkovsy. Por qual motivo um cineasta soviético da segunda metade do século passado buscaria um tema como esses para fazer um filme? Em parte, pela influência materna e profundamente cristã, mas em grande monta pelo momento político em que se vivia naquele país. A complexa obra tarkovskiana é marcada por um reflexão aguda e pela onipresença da arte como caminho para a transcendência - e a película em questão não poderia ser mais emblemática nesse sentido.

O Andrey Rublyov do filme nada mais é que outro Andrey, o Tarkovsky: Ambos são artistas produzindo numa terra fragmentada cujo único elemento socialmente conjuntivo é uma ideologia (cristianismo/socialismo) e a tirania beira a plenipotência - mas é total na sedução que provoca. A arte, por meio do uso da alegoria, torna-se o único caminho para a expressão neste meio, todavia, seu fim último é uma transcendência espiritual - e o cristianismo em um dado momento deixa de ser tratado como ideologia explicativa da proto-Rússia em um dado momento do filme para simbolizar a espiritualidade em sentido lato, uma obsessão do agnóstico Tarkovsky. Dessa maneira, a Arte se põe numa posição onde é difícil distinguir onde ela começa e onde termina a Filosofia, a produção da primeira é deslocada da sua órbita comum e ela mais do que transmitir uma ideia, passa a transmitir uma indagação perturbadora sobre o Homem e o que ele faz na Terra.

Dois momentos são fundamentais no filme: A implacável invasão Tártara que ceifa a vida de todos e faz Rublyov fazer voto de silêncio diante da violência para depois ver Durochka, a menina muda que ele levou para o monastério consigo, ser seduzida pela mesma horda que massacrou os seus o abandonar; o segundo, a busca pelo jovem Boriska, sobrevivente de uma aldeia de construtores de sinos destruída pela praga, ser levado para construir o sino da nova catedral sob as ordens do Grão-Príncipe apenas com o conhecimento que tem, sob a pressão perene para terminar sua obra tão logo.

Em ambos os momentos, encontramos duas alegorias sobre a Rússia em que viveu Tarkovsky: O artista que se emudece porque o silêncio torna-se a única forma de resistência diante da violência total e, paradoxalmente, a vítima que se deixar corromper pelo feitiche materialista; a segunda, a necessidade da produção industrial a qualquer custo moral e humano sob as ordens de uma estrutura política autoritária num cenário em que não há base empírica de onde se possa partir - é o nascimento da criatividade por meio do medo, algo nada incomum especialmente na URSS dos anos 30.

Obviamente, como não há ninguém que entenda mais de arte do que um censor, o filme em questão foi violentado, sofreu cortes, e só pode concorrer no Festival de Cannes de 1969 por conta da pressão do Governo Francês. Não à toa, a única cópia original do filme a sobreviver a tantas mutilações foi justamente aquela que uma das editoras do filme, Lyudmila Feiginova, manteve escondida debaixo da cama.

Enfim, o filme sobre o qual joguei a minha despretensiosa luz de mero espectador, trata-se de uma obra intrincada, perturbadora, porém, indispensável, feita para ser vista, revista e sobretudo refletida - e, quem sabe, respondida, sob pena de devorar aqueles que disso se eximirem.


sábado, 22 de agosto de 2009

Palmeiras 2x1 Inter

Num jogo de seis pontos entre os dois times com maior aproveitamento no Brasileirão, venceu o Palmeiras, depois de quatro jogos sem vencer e vendo os seus adversários se aproximarem perigosamente. Aliás, foi o melhor jogo do verde sob o comando de Muricy. Mesmo sem Pierre, suspenso, e Cleiton Xavier, que se contundiu logo no começo do jogo, a equipe deu conta do recado e bateu essa nova equipe do Inter que protagonizou uma reação nas rodadas finais do Primeiro Turno. O Palmeiras, diga-se, entrou em campo com seu novo terceiro uniforme - cuja camisa é azul em homenagem à Itália. Sempre achei que o terceiro uniforme do time deveria ser tricolor - verde, vermelho e branco - como a bandeira italiana e o uniforme do antigo Palestra Itália, mas creio que essa homenagem ficou bacana - e bem melhor do que aquele lamentável uniforme verde-limão. Na partida, Deyvid segurou bem o tranco depois da saída de Cleiton, Diego jogou uma partida ferrada participando dos lances dos dois gols - sofrendo o penâlti que Obina converteu e chutando a bola que Ortigoza pegou o rebote para marcar - e Souza novamente fez uma partida arrojada marcando e saindo para o jogo. Se o time foi bem no primeiro tempo, poderia até ter goleado na segunda etapa, mas desperdiçou chances e sofreu uma pressão desnecessária no fim quando Giuliano que até ali nada fazia, de repente fez uma golaço. O que fica desse jogo é um Inter que eu não sei até onde pode realmente chegar depois do desmanche que sofreu e um Palmeiras que vai para uma verdadeira decisão - se não A decisão - contra o São Paulo no fim de semana que vem.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Marina Silva, A Crise no Senado e o pré-2010

O Governo Lula vai chegando ao seu fim e ano que vem teremos, tal como 2002, não haverá possibilidade de reeleição do mandatário do momento, o que acirra os ânimos de maneira acentuada. Em 1988 1989, venceu um Collor em cima do racha da esquerda e de uma campanha midiática infernal; seu governo naufragou rapidamente e ele se tornou bode expiatório geral da República; Itamar tapou o buraco e transformou FHC em ministro e fiador do pacto elitista pós-Collor, reaparecendo como candidato da continuidade em 1994, eleição da qual saiu vencedor com certa facilidade em cima do êxito inicial do Plano Real. Em 1998, FHC, devido à emenda da reeleição - que ele mesmo idealizou, conseguiu aprovação e se beneficiou - conseguiu a reeleição para dar sobrevida a um governo que se naquela altura já se encontrava em vias de paralisar, acabou travando tão logo e foi se arrastando como um morto-vivo até o final.

Por sua vez, a eleição de Lula em 2002 foi uma convergência de um quadro internacional favorável - como os EUA dando pouca atenção à América Latina -, uma razoável estabilidade institucional, o descontentamento dos setores moderados com os últimos anos do Governo FHC e a própria viagem do PT para a centro-esquerda - acabamos assistindo a uma convergência de um eleitorado que caminhou para a esquerda e de um partido que caminhou para a direita. O Governo Lula nasce trazendo a esperança de produzir mudanças inéditas na forma de se fazer política e de gerir a economia e ao longo dos últimos anos obteve vitórias importantes ao mesmo tempo em que foi desgastado pelos anos de Governo num sistema possuidor de defeitos crônicos.

O próprio Partido dos Trabalhadores sofreu baixas importantes. Não há como fugir da constatação paradoxal de que o tempo de Governo fez o PT amadurecer em relação ao que é a gestão do Estado brasileiro, também trouxe à tona - assim como agravou - vários problemas desta agremiação. O PT de hoje é um partido mais calejado para o exercício do poder do que era ao mesmo tempo em que teve seu potencial de modificação foi reduzido severamente. Sua problemática, no entanto, acaba nublada pelo fato de que o PSDB piorou mais ainda do que ele no mesmo período assim como partidos como PMDB e DEM prosseguem derrapando - e opções à esquerda como o PSOL pecam pela falta de organicidade e uma maior coesão em termos de projetos.

Dois pontos importantíssimos que tocam diretamente o PT ocorreram nos últimos dias: O primeiro é a saída da ex-Ministra do Meio-Ambiente Marina Silva da legenda - ela deverá ir para o PV, partido que propôs lança-la candidata à Presidência da República; o segundo é o desgaste provocado no partido pela crise no Senado.

Sobre o primeiro ponto, não podemos perder do nosso horizonte visual que a questão ambiental foi um dos calcanhares de Aquiles do PAC e isso gerou desgastes violentos entre a Ministra Dilma, futura candidata à presidência pelo PT. Marina, em vários momentos esteve certa e não foi ouvida - e é necessário sublinhar que foi a melhor Ministra do Meio-Ambiente da nossa história, tanto por ter feito um bom trabalho quanto por conta da base de comparação fraca, levando em consideração que essa pasta já foi ocupada por gente como Zeca Sarney, futuro correligionário de Marina no PV. Sua saída para o Partido Verde, no entanto, é um erro muito grave; o partido em questão tem caminhado cada vez mais para ser um apêndice de uma oposição que perdeu o rumo e muito provavelmente qualquer candidatura que saia do PV venha a ser uma mera candidatura-peão do PSDB/DEM no tabuleiro das próximas eleições. Ademais, o PV brasileiro nunca conseguiu construir uma posição suficientemente coesa e oferecer uma alternativa crível para o desenvolvimento sustentável. Portanto, uma eventual candidatura de Marina pelo partido só teria a utilidade de trazer o debate ambiental à baila, mas não teria viabilidade eleitoral assim como o PV no Governo não teria uma base suficientemente sólida para promover mudanças na área - até por suas próprias inconsistências internas. No fim das contas, seria um movimento que daria um valioso préstimo à candidatura de José Serra.

Quanto a Crise no Senado, primeiro temos mais um espetáculo de hipocrisia aguda da mídia corporativa quanto ao velho José Sarney que enquanto serviu certos interesses era santo, mas agora, depois de décadas de vida pública de repente se viu denunciado por quem sempre o apoiou. Obviamente, ele errou em muitas coisas na Presidência do Senado, cometendo desde nepotismo até praticando atos secretos - o que, no entanto, é um problema sistêmico, não surgiu agora e acontece num órgão cuja existência decorre da mímese de modelos estrangeiros, dado o fato de que o federalismo brasileiro girar em torno muito mais dos municípios do que dos estados. O PT errou em vários momentos na aliança com o político maranhense, ora radicado no Amapá, dando muito mais do que recebendo - como ficou patente na relação com o ex-Governador do Maranhão, Jackson Lago, bisonhamente cassado e renegado pelo Governador Federal desde os primeiros dias -, no entanto, no caso em tela, ele acabou sendo vítima do jogo eleitoreiro de uma oposição muito longe de ser insuspeita. A ordem que veio de cima era para a bancada petista no Senado defender Sarney e assim o foi, sob os protestos de um histriônico Mercadante - que renunciou à liderança do partido naquela Casa - e de um Flávio Arns - que saiu do partido tecendo loas para uma figura como Arthur Virgílio, o que é no mínimo curioso.

Teremos um ano interessante ano que vem, muito provavelmente com uma eleição extremamente suja e tensa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Coritiba 1x0 Palmeiras

Ontem, o Palmeiras sofreu a sua primeira derrota sob o comando de Muricy Ramalho, mas levando em conta que o time já vinha de três empates consecutivos e que sob a égide do seu atual treinador, só havia conseguido vencer dois jogos por diferença mínima, o fato é que incertezas passam a pairar no Palestra. O melhor Palmeiras do ano foi aquele comandado por Jorginho, a equipe entrava com disposição em campo e o treinador achava o time certo. Muricy confunde as bolas e parece conhecer muito mal o elenco que tem. Na partida de ontem no Paraná, ele escalou o time de um modo estranho em um 3/2-3/2 com Daniel Lovinho como ala-direito (!) e dois centro-avantes isolados e batendo cabeça - Obina e Ortigoza. Mexeu mal quando Pierre foi expulso infantilmente e, ainda assim, foi contando com a sorte - e a incompetência do adversário. No segundo tempo, o juíz não viu um penâlti de Marcão, mas depois compensou marcando um penâlti que não existiu, muito bem batido por Marcelinho Paraíba, o melhor jogador em campo. Era jogo para empate - mais um -, mas a equipe desta vez nem isso conseguiu fazer. É questão para se pensar.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sobre o Fascismo, a Academia e o Brasil

O Fascismo nasce com Mussolini como uma ideologia política cujo fim último era a salvação do Capitalismo a qualquer custo - inclusive o da potencial implosão dos parâmetros mínimos estabelecidos pelos Iluminismo. Essa salvação decorreria da instalação de um Estado Totalitário assentado sobre o paradigma da excelência técnico-administrativa - que supostamente acabaria com as ideologias, mas ela mesmo não só decorre como é a principal marca de uma ideologia. Essa ideologia nasce de uma deformação via exarcebação do idealismo, busca suas fontes na antiguidade e, não por acaso, seu símbolo é o feixe de armas de Roma, símbolo do poder do Estado e da unidade do povo - doravante, adaptada por Mussolini como unidade nacional.

O Nazismo está dentro dessa tradição, mas ele acaba transcendendo certos aspectos trazidos pelo Fascismo; o símbolo Nazista é a cruz suástica, um dos mais antigos símbolos cultuados pelo homem branco - tendo em vista a intenção nazista de justificar a superioridade do povo alemão em virtude de sua suposta "pureza", a cruz suástica é o símbolo de que são os alemães não-judeus e não-ciganos os herdeiros da tradição primitiva da civilização branca; uma alegoria que, obviamente, não encontra nenhum respaldo histórico ou biológico. O Nazismo então se diferencia do Fascismo pelo seu forte componente eugênico e sua posição mais acirradamente anti-iluminista antes mesmo de ser anti-materialista.

Ambos, no entanto, pertencem ao mesmo espectro político, situando-se no que se convenciona por extrema-direita. Esse grande Fascismo - que incorpora o Nazismo assim como Franquismo, o Salazarismo et caterva - é inimigo do liberalismo porque nega alguns de seus principais paradigmas, como os direitos individuais de exercício da atividade econômica e da autonomia dos agentes de mercado em atuarem de maneira difusa seja dentro do Estado oficial ou formando algum Estado paralelo para driblar os pesos e contrapesos - de tal sorte que o Fascismo também os nega, mas o faz de maneira oficial, por meio de um Estado gigante, todo poderoso, um absolutismo laico, tecnocrático e impessoal.

Se mesmo valores burgueses como o individualismo, o judiciário independente e o parlamento - com seus (muitos) defeitos e (poucas) virtudes - são negados, qualquer ideologia que visa superar essas estruturas também é combatida, o que vale para os socialismo em todas as suas facetas - mesmo as autoritárias; a relação do Fascismo com tais ideologias antagônicas é brutal e destrutiva: Os fascistas lutam contra qualquer possibilidade de debate público, eles implodem ou explodem os espaços públicos de debate, seja pelo rebaixamento da linguagem, pela violência física, sempre usando como falácia-muleta a transferência da culpa de seus crimes para as suas vítimas.

Isso se deve ao fato de que as falácias que sustentam essa ideologia não suportam o debate público, portanto, é necessário que no lugar desse debate previamente destruído, seja tomado pela Propaganda - sempre fazendo uso do rebaixamento da linguagem e a regressão intelectual, nunca esclarecendo, mas sim, emocionando a plateia. Assim, se acaba com a possibilidade da Razão e se trabalha com instintos e sensações das pessoas; a chave para entender o Fascismo passa pela compreensão da anestesia intelectual do povo que, alheiado da sua autonomia coletiva e da sua subjetividade, é esmagado por uma máquina técnico-administrativa inimiga da Razão.

É diante disso que estou acometido por uma grande e não injustificada preocupação em relação ao futuro da humanidade e mesmo do nosso Brasil - que paradoxalmente se vê às voltas com grandes avanços sociais ao mesmo tempo em que a sombra cada vez escura e gélida do Fascismo nos ronda. Não são apenas as instituições caquéticas e corruptas do nosso Estado, mas também uma miríade de organizações que estão prestes a capitular diante dessa ameaça: As universidades e mesmo centos acadêmicos, outrora centros de resistência, hoje se veem dominadas pelo cripto-fascismo.

Trazendo para um campo um pouco mais concreto, trago um exemplo do que vejo na minha realidade, estudo na PUC-SP, uma Universidade que, à luz da concepção liberal de Direito, se vê às turras com a própria Constituição, especificamente com o preceito elementar da autonomia universitária, previsto no art. 207 de nossa Lei Maior:

Art. 207 - As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

§ 1º - É É facultado às universidades admitir professores, técnicos e cientistas estrangeiros, na forma da lei.
§ 2º - O disposto neste artigo aplica-se às instituições de pesquisa científica e tecnológica.


A intervenção perene da Igreja Católica é visível e esmagadora - o que envolve desde a demissão de funcionários até o recrusdecimento das relações institucionais com os estudantes, o que gera, inclusive um fenômeno de peleguismo em certas camadas do movimento estudantil, especialmente no Direito - cuja gestão atual do centro acadêmico teve a desfaçatez de convidar o Cardeal Arcebispo de São Paulo para um evento no glorioso TUCA ontem, ou seja, mais do que o representante dessa mesma Igreja, também o homem por detrás do atual enquadramento pelo qual passa essa Universidade - o que, felizmente e por vias tortas, acabou sendo evitado por alguns estudantes e pela parte do ME que ainda ousa remar contra a maré.

O que havia ontem no TUCA trazia todos esses elementos que eu descrevi, havia um espetáculo, não um debate público, algo milimetricamente calculado para alavancar a carreira política de alguns nobres colegas, às custas da anestesiamento intelectual da massa e do feitichismo com a autoridade. Antes no nobre arcebispo chegar, os outros convidados, o Reitor, um nobre Ministro do STF e um professor respeitado da casa, dissertavam sobre as maravilhas da democracia, quando o debate foi aberto para perguntas e surgiu uma particularmente incômoda para a atual Gestão, os ânimos se exaltaram e a palestra acabou por ali - sem que nenhum dos palestrantes fizesse questão de continuar, afinal defender a democracia abstratamente é fácil, mas pratica-la ainda é algo estranho às nossas elites - a polêmica é convenientemente tomada por ofensa e implode-se o espaço. Para o horror de um Dom Odilo que chegou a um TUCA vazio e teve de escutar, o protesto civilizado de um grupo de estudantes contra suas políticas para a PUC e de que sim, somos contra violências contra os filhos de Deus, como por exemplo chamar a Tropa de Choque para bater em estudantes. Ele não explicou nada e partiu sem maiores explicações.

Esse pequeno fato é revelador não apenas no que toca às limitações e contradições do constitucionalismo liberal, mas também ilustra sua incompatibilidade no Brasil, onde a tensão dialética entre um pré-iluminismo próprio da nossa elite por conta de sua formação e os anseios populares acirra os seus problemas intrínsecos desse modelo - o que implica no risco perene de que a tentativa de "organizar" o país pelo crivo de uma solução fascista, o que não é incomum no mundo, mas que por essas terras se encontra particularmente mais próximo. É um cenário perigoso e complexo e é bom não nos enganarmos com os avanços que assistimos.

sábado, 15 de agosto de 2009

Globo x Record


(A Noite Estrelada - Van Gogh)

Muita coisa tem acontecido nos últimos dias. Uma delas é a guerra entre Record e Globo por meio dos seus telejornais, o que não causa espanto, muito menos é novo, mas agora ganha uma conotação diferente por conta do peso que a Record tem na audiência, o peso que a Globo não tem mais na audiência e como os dois fatos se relacionam - além do óbvio projeto de poder por detrás e no interior de cada ação de ambas. Esse fato ilustra a profunda e ampla confusão com a qual o nosso país vive às voltas, uma espécie de esquizofrenia pós-moderna onde os setores progressistas se veem corrompidos, sem referencial ou mesmo transformando certas posições em dogmas e as tratando como tábua de salvação - uma coisa como essa noite estrelada de Van Gogh, onde as tevas são rompidas pelo clarão que emana de astros confusos, difusos, disformes.

No Nosso Brasil, esse modelo de Televisão que temos, vem dos dias escuros da Ditadura Miltar, onde uma mistura do sistema fechado de concessões públicas manteve os controle da Televisão nas mãos do Regime de Exceção numa bizonha associação com o capital estrangeiro - o que dá na Rede Globo de Televisão, uma organização pertencente a uma família apoiadora do golpe, num espaço público concedido pelo decorrente regime de exceção e com a inequívoca participação da Time Life. A moderna TV Record nasce lá nos anos 80, quando a Record original faliu e o canal foi concedido para a até então pequena e aparentemente inofensiva Igreja Universal do Reindo de Deus numa negociação onde a Central Única dos Trabalhadores, ela mesma, a CUT foi boicotada pelos donos do poder e não pôde ter o seu tão sonhado canal de televisão - uma jogada aparentemente brilhante, não fosse o fato da IURD ter crescido brutalmente e depois sua aliança tática com o Lulismo, um desastre para o velho Brasil, abrindo espaço para o novo, ainda que um novo não menos assustador.

O avanço do neopentecostalismo, claro, decorre do fracasso da Igreja Católica em se adaptar à nova realidade urbana do Brasil bancada pelo desenvolvimentismo verde-oliva dos militares. Enquanto a Igreja convulsionava numa luta entre a Teologia da Libertação e o velho clero, o papado reacionário, eurocêntrico e míope de João Paulo II não conseguiu enxergar que a opção pela segunda ala foi o início do fim do catolicismo romano no Brasil - o velho clero sempre foi uma anti-TL, incapaz de se adaptar ao novo Brasil ou a atender aos anseios de um proletariado urbano superexplorado e guetificado. A Educação Pública, que além de não ter sido devidamente reformada, foi desmontada com o advento da Democracia - estranho isso, não? -, resultou na incapacidade de transmissão de um pensamento laico para a maior parte do povo brasileiro, especialmente nas áreas mais pobres.

Do desastre da educação pública agravado nos dias da suposta democracia em que vivemos até o desmonte da Igreja Católica por ela mesma - passando pela lumpenização desse proletariado urbano no Governo FHC -, assistimos ao avanço da chamada Teologia da Prosperidade que embasa a IURD - um Deus que sai da máquina e resolve todos os seus problemas financeiros e individuais desde que devidamente remunerado, claro. Edir Macedo, fundador e líder da IURD, expande os tentáculos da sua organização fortalecendo seu instrumento midiático, a Record, ao mesmo tempo em que cria uma bacada de deputados fiéis ao lobby neopentecostal no Congresso - usando prioritariamente o antigo PL, doravante PR, não coincidentemente partido do atual Vice-Presidente da República.

O fracasso do Governo FHC e a consequente eleição de Lula coloca a endividada Globo em maus lençóis; seu modelo jamais foi economicamente viável - apenas, politicamente viável -, o que a deixa na mão de um político que ela se prestou a ser algoz poucos anos antes. O exemplo chavista de não renovar a concessão de TV para uma empresa golpista foi um susto considerável. A má vontade do Governo Lula em sua relação apesar de não ser novidade, a deixa entre cruz e a espada: Romper totalmente com o Governo significaria ter de suportar alguns dias do livre mercado, enfim, um suicídio; calar por completo, seria pior ainda. Nesse meio-tempo, a Record apóia Lula mais fortemente ainda na reeleição em 2006 e ganha uma nova concessão pública - a Record News. A Guerra está aberta - e detalhe, meu caro leitor, no que toca as reportagens em relação a Outra, nem uma das duas está faltando com a verdade.

Brasileirão: Fechamento do Turno

Hoje começa a ser disputada a 19ª rodada do Brasileirão, rodada final do Turno. Como o Internacional, uma das equipes ainda na briga pelo título simbólico, foi disputar um torneio no Japão, ele se encontra neste momento com dois jogos a menos - inclusive um contra o Atlético-MG, time que também está na briga. Só o Palmeiras, dentre os times que estão na parada, tem 18 jogos; se vencer hoje o Botafogo, acaba com as chances do Galo e fica torcendo para o Inter empatar um dos três jogos que ainda tem a disputar (Santo André, Santos e Atlético-MG); o Galo Mineiro só será campeão caso ocorra uma combinação de resultados tremenda. Antes do início do campeonato, Atlético e Palmeiras corriam por fora, agora estão na briga, o Inter tinha tudo para disparar no começo, mas se atrapalhou com o trauma da derrota na Copa do Brasil, o subsequente desmanche do elenco, só que depois da diretoria ter respaldado Tite, a equipe voltou à baila - mas longe da superioridade que desfilava no início do campeonato. Fora os três, São Paulo e Goiás estão vivíssimos no torneio; o primeiro não chega a ser uma surpresa, tem estrutura - o que conta muito nesse tipo de campeonato - e os brios inflamados pelo fato de seu ex-técnico ter ido para o rival Palmeiras com concreta possibilidade de título; o segundo me surpreende e montou seu melhor elenco desde aquele bom time que ficou em terceiro em 2005. Será que Santos e Flamengo poderão encostar lá? Talvez, mas é bom fazerem isso logo.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ponderações sobre a História

E o Homem tomou conhecimento da irremediabilidade da sua própria morte. Mesmo que fizesse tudo que pudesse, cedo ou tarde morreria. Se a luta contra a morte se mostrou perdida antes mesmo de começar, ele resolveu deixar a sua marca na existência por meio de sua Obra - uma provocação ao cosmos, uma expressão de sua frustração diante de sua finitude. Nasce a ideia do Esquecimento e o seu outro: A Memória. A Cultura nasce da própria natureza falha do Homem e nela se funda, mas ela também se mostra finita; estátuas, monumentos e palácios voltam ao pó de onde vieram e a incomensurável tensão dialética entre Memória e Esquecimento, volta à baila. De seu choque nasce a História. O Homem, esse ser em permanente desequilíbrio, dependente da Razão ao mesmo tempo em que é escravo de suas paixões, produz desesperadamente mas sua produção apenas é uma marca na areia do Tempo - e o tempo, nada mais é do que a massa em movimento, mutável e mutante. A História é a narrativa que transcende a finitude do ser e também das coisas que lhe servem de apêndice, - a impressão que fica, a memória -, mas também se faz de esquecimento, pois nem sempre há como se lembrar de tudo - e quando há, raramente isso é cômodo. Essa luta prossegue: memorizar, esquecer; construir, destruir; no entanto, jamais é possível parar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Atlético MG 1x1 Palmeiras

Hoje, no Mineirão, Atlético-MG e Palmeiras empataram em 1x1 num famoso jogo de seis pontos. Teoricamente, foi um bom resultado para o Palmeiras, empate contra adversário direto fora de casa e ainda contra mais de 50 mil torcedores, no entanto, os erros da arbitragem e as próprias falhas da equipe deixaram um gosto amargo.

Muricy novamente armou mal a equipe com Marcão na lateral-esquerda e um bisonho Sandro Silva como volante pela esquerda matando aquele lado do time. Acertou na entrada de Souza como volante pela direita, liberando Diego e Cleiton tanto para a armação quanto para chegar junto de Ortigoza - o pivô do time. Na defesa, Wendel foi lateral-direito, M. Ramos e Danilo completaram a zaga e Pierre foi o cabeça de área.

Celso Roth armou o Atlético-MG com Werley e Welton na zaga com Jonílson voltando para fazer o líbero; Carlos Alberto e Feltri nas alas; Renan e Serginho na marcação, Júnior livre para flutuar e um ataque móvel com Éder Luís e Renan Oliveira.

Logo de cara Marcão saiu errado, Éder Luís chutou de fora da área e Marcos pulou atrasado e o Galo abriu o placar. O jogo seguiu embolado, o Palmeiras tentava, desorganizadamente dar a resposta, mas era desarmado pelo marcadores atleticanos que, no entanto, apostavam na correria e não souberam aproveitar a vantagem prematura e casual para cadenciar um pouco mais e jogar no erro do adversário.

Muricy corrigiu o lado esquerdo do Palmeiras ao inverter Souza e Sandro Silva. O verde ia chegando ganhando terreno pouco a pouco. Num lance, Ortigoza cabeceou com os olhos fechados para fora. Em seguida Diego, num contra-ataque, entortou o zagueiro atleticano, cruzou e Ortigoza cabeceou certo empatando o jogo. O Atlético sentiu o gol e o goleiro Bruno fez penâlti em Sandro Silva, mas o juíz não marcou.

No segundo tempo, o goleiro do Atlético faz nova lambança pegando recuo com a mão e o juíz marcou a tiro livre indireto. Diego bate, Renan acerta a mão na bola e o juíz não vê de novo. Diego manda na trave. O Palmeiras cede terreno, O Atlético passa a encaixar contra-ataques e Wendel, que fazia partida apagada, faz um penâlti tosco em cima de T. Feltri. Renan Oliveira bateu com paradinha e Marcos defendeu se adiantando, mas o juíz não viu também e o goleiro verde se redmiu pela falha no primeiro tempo.

O jogo prosseguiu com o Palmeiras contra-atacando com perigo; em duas ocasiões Origoza serviu Cleiton por duas vezes, mas o meia verde falhou. O Atlético cansou e Celso Roth mexeu mal. Muricy teve uma demora parreirística para mexer no Palmeiras; fez o certo, mas muito, mas muito tarde: Saiu o desnecessário Sandro Silva para a entrada de Deyvid e entrou Daniel no lugar de Ortigoza - ainda que eu teria tirado Cleiton, ótimo jogador, mas numa noite meia-boca. O Palmeiras teve mais algumas chances, mas acabou assim.

O Atlético-MG ainda pode vencer turno porque tem um jogo a menos, mas depende de tropeços do adversário de hoje e do Inter. O Palmeiras não depende mais de si para tanto porque caso o Inter vença os três jogos que lhe faltam será campeão simbólico mesmo que o Palmeiras bata o Botafogo - devido ao critério de número de vitórias.

O Galo correu muito, mas tem de aprender a pensar um pouco mais as jogadas, a cadenciar o jogo, mas Roth melhorou uma barbaridade a marcação da equipe em vista do que se viu no campeonato estadual. O Palestra, por sua vez, permanece invicto com Muricy, mas com uma minguada média de um gol por jogo nesse período além de ter levado dois gols em falhas grotescas contra adversários diretos - seja a de hoje ou a de quinta passada contra o Grêmio. Também pesam as carências na lateral-direita e a falta de substituto à altura para Armero na esquerda assim como a arbitragem de hoje.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Greve na TV e na Rádio Cultura

(Imagem retirada daqui)
Os trabalhadores da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV e da Rádio Cultura - além do canal por assinatura Rá Tim Bum - estão em greve desde a madrugada de segunda-feira. O motivo da greve é basicamente o não cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) - ACT's são ajustes entre uma ou mais entidades empregadoras com o sindicato representativo da categoria, eles têm valor normativo reconhecido em Lei (CLT, art. 611, §1º) e normatizam as relações empregatícias apenas dentro das entidades acordantes.

O Acordo Coletivo em questão vale para a Fundação Padre Anchieta. Ele determina um aumento de 5,83% e um abono de 35%, o que não foi cumprido. O Conselho da Fundação se reuniu com o comando de greve e propôs um aumento maior - de 5,85% para 6,05% -, mas não pagaria o bônus (!). Diante do exposto, a greve não somente estourou como também teve ampla adesão. O Sindicato dos Jornalistas, no entanto, continua mantendo uma posição ambígua e distante da questão - mesmo que a categoria dê amplo apoio ao movimento grevista.

Isso daí é um reflexo de um processo que já tínhamos tratado aqui em Maio, e implica desde o sucateamento da programação da Rádio e Tv Cultura até a descaracterização dos programas ainda funcionais em favor de interesses partidários - o Roda Viva, por exemplo -, passando também pela wal-martização das relações trabalhistas e do simples desrespeito ao Direito do Trabalho.

No caso em tela, temos a decorrência natural da mão forte do Governo Serra acirrando um desmonte que já remonta aos anos 90 nas primeiras administrações tucanas no estado. Nesse sentido, a atuação de um Paulo Markun na presidência da Fundação tem sido decisiva como podemos constatar, por exemplo, na demissão de Luís Nassif ano passado - o próprio Nassif, aliás, postou hoje sobre a atual greve, focando na questão do sucateamento da Rádio Cultura.

É uma questão grave e nos diz muito sobre como seria uma presidência Serra - seja no tocante à sua relação com o Estado Direito ou mesmo no que concerne à política de telecomunicações, passando também pela visão de política trabalhista.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O Biscoito e a Blogosfera

Sou mais um dos que ficaram chocados com o anúncio da hibernação do maravilhoso blog o Biscoito Fino e a Massa de Idelber Avelar. Alexandre Nodari, Maurício Caleiro e João Villaverde já escreveram excelentes posts sobre o fato, mas eu preciso pontuar algumas coisas.

Qualquer pessoa que conheça razoavelmente a blogosfera - e seja minimamente honesta - teria sérias dificuldades para não incluir o Biscoito como um dos três melhores blogs em língua portuguesa da atualidade. Eu, particularmante, o considero o melhor. Como eu assinalei na caixa de comentários do Consenso, só No Paredão, creio que a grande contribuição de Idelber para a blogosfera foi inovar não apenas no conteúdo - trazendo para blogosfera um conteúdo de alto nível com o texto refinado e acessível -, mas também na forma - explorando as potencialidades da blogagem ao extremo, linkando, montando redes, fomentando o debate na sua caixa e trazendo uma forma de debate que foge ao pedante e limitado debate nacional contemporâneo.

Eu, como boa parte de quem frequenta a blogosfera hoje, comecei a ler blogs naquele boom de 2007-08 e o fiz a partir do blog do Nassif, cujo trabalho já acompanhava desde a época da Gazeta. Através dele descobri uma série de outros blogs diretamente e por conta dele acabei achando o Biscoito de uma forma indireta, acidental e bizarra. Explico-me: Em uma das muitas contendas do Nassif contra um certo Reinaldo Azevedo, resolvi buscar informações sobre RA. Eu sempre procurei esvaziar aquela figura, mas um dia eu realmente precisei saber quem era Reinaldo Azevedo. Eis que eu procurei no Google e achei este post do Idelber desencando ele de uma forma genial. Tive a minha resposta e acabei descobrindo um blog que atendia aquilo que eu procurava na blogosfera - uma espaço de análise, reflexão e debate.

Isso foi no finalzinho de 2007 e de lá até o começo de 2008 só o acompanhei como leitor, ficava acanhado de comentar alguma coisa por lá, afinal, o hômi era um professor universitário que escrevia sobre tudo e eu, naquela época, era só um pobre diabo de um vestibulando. Mas em 2008, comecei a comentar e fui ficando por lá - e assisti o crescimento do Biscoito na blogosfera, o que a tornou um lugar consideravelmente melhor. Assim como Alexandre Nodari, reconheço que a minha concepção de blogosfera foi fortemente influenciada pelo Biscoito e, claro, isso tem muito a ver com este blog.

Respeito as motivações do Idelber, mais do que isso, sou solidário a ele: A blogagem consegue ser uma atividade incrivelmente prazerosa e, em outros momentos, um trabalho estressante ao extremo por tomar um tempo danado. Se a relação custo/benefício não está compensando, melhor dar uma paradinha mesmo. Ainda assim não posso de deixar torcer para que ele recarregue as baterias tão logo ou simplesmente mude de ideia de uma vez por todas e faça com que essa hibernação seja incrivelmente curta a ponto de nem sequer nos lembrarmos dela daqui a um ano - prontofalei. De qualquer modo, fica aqui o que eu coloquei no Alexandre e o Maurício assinalou no blog dele: A hibernação do Biscoito deixa um vácuo considerável na blogosfera brasileira.

Atualização de 12/08 às 15:50: O Bruno Pinheiro e o NPTO também postaram sobre o assunto.

domingo, 9 de agosto de 2009

O Campeão Voltou?

O São Paulo acabou de bater o ascendente time do Goiás por 3x1. Foi um jogo bastante elucidativo sobre até onde essas duas equipes podem chegar nesse campeonato. Eu já apontava, no início do campeonato, o tricolor como um dos favoritos. Naquela ocasião, elencava como vantagens do clube sua estrutura, o elenco brigador e disciplinado - com alguma qualidade - e a competência do seu então técnico Muricy Ramalho em campeonatos disputados no sistema de pontos corridos. Muricy foi-se num dos episódios mais controversos da atual temporada, veio Ricardo Gomes - que até hoje não fez nenhum trabalho relevante - e a equipe que começou com o freio de mão puxado continuou patinando. Algo mudou. Querem um palpite? Foi a contratação de Muricy Ramalho pelo rival - e vizinho - Palmeiras. A possibilidade de ver o ex-treinador assumindo o rival em grande fase com uma possibilidade real de título mexeu com os brios tricolores - do presidente aos jogadores. O São Paulo arrancou. O título verde, no entanto, continua a ser uma possibilidade concreta e palpável, mas o jogo contra o Atlético-MG em Belo Horizonte ganha uma nova conotação para o verde seja pela nova situação do São Paulo ou pelo tropeço contra o Grêmio no Palestra. Fora isso, os outros dois favoritos que eu havia citado no início do campeonato, Inter e Cruzeiro, o primeiro titubeou e aparentemente derreteu e o segundo derreteu. Enfim, Não dá para dizer ainda se o campeão voltou, mas com certeza o campeonato ficará mais interessante a partir de agora.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Cavalo de Tróia e a América Latina

(La processione del cavallo di Troia - Tiepolo)


Há alguns anos atrás, é muito provável que no Brasil as pessoas nem soubessem que a Venezuela existisse; os poucos que sabiam, tinham dificuldades para localiza-la no mapa e praticamente ninguém sabia que se tratava de um país rico em petróleo e de importância estratégica para os EUA - uma quantidade ainda menor de gente era capaz de criticar o sistema venezuelano, a farsa democrática que tinha sido estabelecida ali com o pacto de Punto Fijo. Hoje, parte das camadas pequeno-burguesas brasileiras, em cima das teses sectárias da mídia corporativa nacional, se colocam na posição de especialistas em Venezuela, mesmo que ainda encontrem dificuldade para encontra-la no mapa

Quando Hugo Chávez chegou ao poder ameaçando a cômoda condição na qual os americanos e a elite local - entenda-se, um bando de administradores coloniais - se encontravam por meio da aterradora proposta de reformas sociais,
ele se tornou o bode expiatório da vez. Com suas virtudes e defeitos, Chávez promoveu avanços econômicos em seu país, mas os erros chavistas sempre foram multiplicados por mil enquanto seus acertos e méritos, muitas vezes foram escondidos ou negados

Na campanha onde pleiteou permitir seguidas reeleições para a Presidência da República, um erro ao meu ver, ele foi simplesmente bombardeado pela mídia latino-americana e brasileira, sendo taxado como até como ditador - mesmo que ele tenha submetido a proposta a votação popular, quando poderia comodamente tê-la submetido ao parlamento que lhe é francamente favorável.

Ironicamente, Álvaro Uribe, mandatário colombiano, também conseguiu o direito a concorrer ao terceiro mandato - sequer efetuando uma consulta popular - e a mídia corporativa brasileira se fez de desentendida. Agora estamos diante de outro problema, o aumento da presença militar americana na Colômbia por meio de novas bases com as bençãos de Uribe. Há quem levante teses das mais variadas, mas uma coisa suficientemente óbvia para mim é que ninguém instala bases militares para fazer a paz. Isso causou toda essa celeuma entre os líderes da região e o Presidente colombiano que nos últimos dias se prestou a fazer uma peregrinação pelo continente para se explicar.

Há um claro e justificado desconforto dos líderes da região em relação a isso e, por mais que se faça uma exercício de contorcionismo lógico para falar no risco de uma invasão venezuelana, o que está claro é que o cavalo de tróia montado na Colômbia é a maior ameaça ao Brasil em décadas.


Como já tratado nesse blog, Lula se elegeu numa conjuntura interna de fracasso do Governo FHC - e das políticas alinhadas ao Consenso de Washington - e numa conjuntura externa onde os EUA miravam seu alvo no Oriente Médio e não tinham mais como manter o controle total e completo sobre o nosso continente - isso sem falar no início do processo de crise na economia americana. Pela primeira vez na história, a correlação de forças políticas na região pendeu para a esquerda e os EUA tiveram de aceitar, cedendo os anéis para não ter os dedos cortados. Por mais que certos setores da esquerda critiquem a moderação Lulista - algumas vezes merecidamente, em outras nem tanto -, o simples não-alinhamento automático com os EUA é encarado por Washington com um certo incômodo sim.



O Governo Obama, por sua vez, nasce de um movimento interno nos EUA, onde o fracasso do governo Bush resulta na troca de comando da gestão do Governo local. Para a América Latina, isso impacta num primeiro momento de distensão e num segundo de reorganização estratégica da relação americana com os países da região - como se manifesta no supostamente inexplicável caso hondurenho e no fortalecimento da militarização da Colômbia. Obviamente, 2010 será um ano onde se verá com mais clareza essa política, afinal, teremos eleições no Brasil - e eleições no Brasil são sempre um bom momento para se alterar o panorama das coisas na América Latina. Aí, entenderemos o que é política da administração Obama para a AL e o que é fruto de atropelos de certos setores dos EUA que se autonomizaram na prática.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Sobre Reformismo, Extremismo e Revolução

Desde muito tempo, a esquerda se bate em uma falsa polêmica: Via reformista x via extremista. Como em toda falsa polêmica marcada que se estrutura no binarismo, ela é enviesada: Para os reformistas, essa polêmica é expressa como realistas x idealistas. Para os extremistas, ela se materializa como um traidores x revolucionários. Se no linguajar reformista, os extremistas são diminuídos por argumentos ad hominem que os caricatura como infantis e imaturos, no linguajar extremista, o argumento ad hominem opera na elevação dos reformistas ao posto de traidores e entreguistas, portanto, eles se tornam automaticamente piores do que a direita - enfim, esse é apenas um exemplo de sofisma dentre os muitos que ocorrem no diálogo de surdos que os dois travam.

No fim das contas, nem um grupo nem o outro apresentam soluções concretas ou conseguem operar de fato - e de direito - mudanças cabais. Ambos estão presos demais na sua própria dogmática e escravizados por um comportamento viciado; se Aristóteles diria que tanto a covardia quanto a temeridade são vícios e a coragem é a virtude, cá temos, por analogia, que o reformismo de esquerda é covarde na luta contra o Capitalismo ao mesmo tempo em que o Extremismo é temerário em sua forma e em seu movimento. A virtude mora no equilíbrio, o que em nossa luta se materializa como o radicalismo - e radicalismo, ao contrário do que os parvos que se amontoam em nosso meio e no nosso tempo pensam, não é sinônimo de extremismo, mas sim ser fiel a uma raiz, a um referencial teórico político-filosófico que tem em vista orientar a nossa ação de acordo com as nossa necessidades.

Nesse sentido, o extremismo se diferencia do radicalismo porque é desprovido desse referencial teórico política filosoficamente fundado, tendo em seu lugar dogmas que servem suprir esse vácuo e possibilitar a sua exaltação da prática. O extremista é, sobretudo, alguém que adequa sua posição política à conjuntura buscando ocupar um extremo vanguardista metafísico; em decorrência disso, escapa da razão com frequência, seus efeitos sobre as fileiras da esquerda são devastadores e convergem para o aniquilamento do potencial revolucionário dos jovens: Ou se tornam idealistas ressentidos, amargurados - e até sádicos - que se perdem em suas próprias elocubrações ou se tornam parte das mais agressivas, irracionais e imorais alas da direita - a relação entre pendularismo político e extremismo é histórica, pegue o nosso Brasil varonil e você encontrará exemplos aos borbotões, como os de um Demétrio Magnoli ou de um Reinaldo Azevedo.

O reformismo - e que fique entendido, o reformismo enquanto estratégia e não como tática - é, por sua vez, covarde. Se ele não chega a extremos, por outro, sua covardia se materializa, não raro, na cumplicidade com o mal - o que muitas vezes resulta na eliminação do próprio impulso reformista e na conversão do movimento em mais uma força conservadora, ainda que dificilmente venha a ser reacionária, como frequentemente acontece com os extremistas. No fim das contas, é, à sua maneira, dogmático - e seus dogmas, diga-se, se prendem às limitações que as instituições que ele visa transformar por dentro ditam, o que, em si, é contraditório.

O radicalismo entra nesse aspecto como a proporção ideal para pôr fim a esse falso dilema; é a firmeza na conduta ética e o aprofundamento teórico suficientemente firme para que a teoria não fique sujeita às necessidades da práxis política, mas sim que essa segunda seja orientada pela primeira - o que, obviamente não é fácil, mas visa impedir a dogmatização da Revolução e a decorrente morte prematura dela. A experiência histórica é suficientemente clara - e cruel - no sentido de qua para além da limitada visão sociológica e econômica é necessário lançar um olhar mais distante e profundo, ponderando a dimensão antropológica da questão. É uma tarefa árdua, mas precisamos retomar a reflexão e o pensamento.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cunhal, Saramago e a Política de Portugal




Todas as vezes que eu leio O Caderno de Saramago, eu tenho uma sensação estranha. É mais ou menos como se você estivesse navegando pela blogosfera e topasse com o blog de um Dostoievsky ou de um Machado de Assis. Isso gera um estranhamento duplo: Em uma época tão distosa quanto a nossa, é surpreendente saber que ainda existem gênios como Saramago entre nós ao mesmo tempo em que é assustador para nós, blogonautas, que ele ainda escreva um blog. Pois bem, estava eu a ler esse estandarte da língua portuguesa quando me deparo com um post sobre Álvaro Cunhal. Escreveu Saramago:



"Não foi o santo que alguns louvavam nem o demónio que outros aborreciam, foi, ainda que não simplesmente, um homem. Chamou-se Álvaro Cunhal e o seu nome foi, durante anos, para muitos portugueses, sinónimo de uma certa esperança. Encarnou convicções a que guardou inabalável fidelidade, foi testemunha e agente dos tempos em que elas prosperaram, assistiu ao declínio dos conceitos, à dissolução dos juízos, à perversão das práticas."



Álvaro Cunhal, para quem não o conhece, foi um histórico militante comunista português. Participou da resistência ao Salazarismo além de ter sido homem de confiança de Moscou - não só em Portugal como na Europa Ocidental - nos anos 60 e 70. Foi romancista e pintor; assinava suas obras sob o pseudonimo de Manuel Tiago, o que foi revelado apenas em 1995, dez anos antes de sua morte. Viveu longa e intensamente, sendo um dos atores políticos mais importantes daquele país no século 20º. Muito do que Portugal é hoje, para o bem e para o mal, ou foi em virtude ou contra ele.

Falamos de um país com o qual temos inequívocos laços culturais e que viveu décadas sob a égide de um regime fascista, o Estado Novo, também conhecido como o Salazarismo. Ele nasce do caos em que se encontrava o decadente Portugal do início do século 20º e dá a cola administrativa que a burguesia local precisava para prolongar a vida do imperialismo do país. Também serviu para manter Portugal atrasado e isolado da Europa.

Frente a isso, os comunistas portugueses fizeram dura oposição e foram perseguidas. Cunhal chegou a estar preso várias vezes, chegando a protagonizar espisódio celébre denominado como a
Fuga de Peniche. Nunca se desgrudou de Moscou, muito pelo contrário. Diante do agravamento da crise portuguesa nos anos 60, quando a Guerra Colonial ceifava vidas e criava cisões irreconciliáveis nas Forças Armadas, o Estado Novo se via às portas da queda e o PCP de Cunhal era uma possibilidade concreta de vir a tomar o poder.

Ironia das ironias, é na esquerda que vai surgir a oposição ao PCP: É nos arrededores de Bonn, capital da antiga Alemanha Ocidental, em 19 de Abril de 73, que inúmeros intelectuais social-democratas, trabalhistas e trotskystas em exílio são reunidos sob as bençãos - e o financiamento - do SPD para fazer frente ao PCP numa realidade pós-salazarista.

A Revolução dos Cravos acontece em 25 de abril de 74 e a direita portuguesa é varrida; o sistema político partidário é reconstruído e nenhum partido se identifica como sendo coisa mais do que centro - mesmo o direitista CDS/PP se posicionava enquanto "centro". Estão organizados o PS, firmado no contexto já explicado, o PCP de Cunhal e no mês seguinte o curioso AD, doravante PSD - a social-democracia portuguesa que nasce dos corredores das Faculdade de Direito de Coimbra e Lisboa inspirada na Social-Democracia Alemã que estava no seu auge, olvidando-se de combinar com os alemães do SPD que criaram o PS e sempre o enxergaram como seu congênere em Lusitânia.

O PCP tem sua importância denunciando e combatendo tentativas contra-revolucionário ao mesmo tempo em que tenta trazer Portugal para a esfera do Socialismo Soviético - ao qual Cunhal, reitero, manteve fidelidade canina, mesmo na Primavera de Praga. No xadrez da Guerra Fria, claro, seria impossível imaginar um país socialista no extremo-oeste da Europa e a saída se dá pelo meio com o PS de
Mário Soares.

Cunhal e o seu PCP foram neutralizados. Portugal promulga a Constituição de 76, de inspiração Social-Democrata, e se torna República Parlamentarista. A debilidade decorrente do verdadeiro balaio de gatos em que se materializara o PS de Soares levam o partido a perder as eleições no início dos anos 80, dando oportunidade para o improvável PSD, que dentre os partidos assumidamente social-democratas no mundo, só encontra rival do mesmo nível no que toca o quesito esquizofrenia ideológica na figura do glorioso Partido da Social-Democracia Brasileira.

Os socialistas ainda voltam ao poder, mas fracassam e o PSD vence novamente se assumindo como defensor daquilo que é chamado como "Liberalismo Social". Dessa vitória decorre o mais longo Governo da história da III República Portuguesa, na figura do social-democrata Cavaco Silva, o que na prática coloca o PSD na centro-direita. Cavaco Silva dá a cola administrativa que o Governo nunca encontrou ao mesmo tempo em que se beneficiou duramente da entrada de Portugal na UE, alimentando-se politicamente do desenvolvimento social inercial que decorreu desse processo.

De lá pra cá, os portugueses assitem a uma alternância entre PS e PSD e atualmente se deparam com o Governo de
José Socrates, entusiasta das fileiras trabalhistas do PS, já no poder há cinco anos fazendo o estilo "terceira via" à la Blair, um centrismo onde a boa arrumação do topete conta mais do que qualquer outra coisa. Os socialistas dominam a cena política local, detendo 121 cadeiras das 230 da Assembleia Nacional. Enquanto isso, seus rivais encontram-se isolados na direita (com as 87 cadeiras do CDS/PP e do PSD) e na esquerda (as 22 cadeiras dos comunistas, dos verdes e do bloco de esquerda, que para variar não se entendem entre si) - isso na prática, em tese ninguém é direitista.O PCP - que tem como filiado mais ilustre o mesmo Saramago que deu início a essa divagação - concorreu em coligação com os verdes e teve 7,56% dos votos, fazendo 12 cadeiras.

O país vive num beco sem saída que se materializa numa economia travada, um modelo europeu esgotado, uma direita que apesar de pequena é barulhenta e agressiva. Na esquerda, de um lado, o socialismo à la URSS, que alimentou os sonhos do PCP durante anos, se foi (felizmente, como diria um certo Chomsky); do outro, a nova divisão internacional do trabalho pós-URSS matou muitas das ilusões social-democratas. Entre esses dois modelos, um fracassado e o outro às portas do fracasso, ronda o espectro do Fascismo, a noite das noites, o abismo gélido e escuro que encara toda a Europa nesse exato momento.

Dificilmente a resolução para esses problemas estará em Portugal, mas o país é, pelo menos, um exemplo emblemático do enigma que nós somos obrigados a resolver - sob pena de assistirmos a vida nesse mundo pequeno e azul ser devorada junto conosco.

sábado, 1 de agosto de 2009

Humor e Deboche

Recentemente, Danilo Gentili, membro da trupe do "humorístico" CQC, se envolveu numa polêmica: Ele fez uma piada racista no seu twitter e foi profunda - e devidamente - criticado. Não voltou a atrás e a cada vez que se defendia, mais se enrolava. Como até um relógio quebrado marca a hora certa duas vezes ao dia, esse desditoso acontecimento acabou rendendo bons textos na blogosfera como o do Túlio Vianna e o da Marjorie Rodrigues. A "piada" em questão era o seguinte:


"Agora no TeleCine KingKong, um macaco q depois q vai p/ cidade e fica famoso pega 1 loira. Quem ele acha q e? Jogador de futebol?". (Se você duvida que ele escreveu isso, eis o link)


Longe de mim querer repercutir o que uma dessas celebridades - no caso, uma quase celebridade - escreveu. Não é pra isso que eu escrevo um blog, mas esse caso suscita um debate que vem se tornando bem recorrente: A história do humor, seus limites e a questão do politicamente correto. Desde então, fiquei matutando sobre a questão.

Se isso que nós chamamos hoje de Arte poderia ser definido como uma experiência estética sensivelmente impactante que visa a transmissão de um conceito e o faz mediante o uso de símbolos, o Humorismo, então, é Arte em estado radical; o impacto que produz é tamanho que provoca a euforia no espectador, o que se materializa no riso. Esse simbolismo o faz implicar em uma linguagem - e como tal, não é neutra, mas sim relativa à ideia que pretende transmitir.

Pois bem, indo um pouco mais adiante, resta pensar qual é a função do humor. Se a Ética/Moral - a dicotomia entre os dois conceitos é falsa -, seria o modo de agir que se adequa perfeitamente a convivência em grupo, logo ela pertence à realidade objetiva que não alcançamos, daí, por meio da nossa reflexão - motivada pela necessidade do conviver - criamos padrões éticos/morais. Tais padrões, não raro, se mostram falsos, no entanto, mesmo diante dessa constatação, às vezes eles são mantidos pelo interesse de uma classe - estamos diante do Moralismo. Veja só, o Humor serve para denunciar esse moralismo, o que, por vezes, resulta numa transgressão. Obviamente, o Humor vai contra padrões éticos/morais falsos, não contra a Ética/Moral porque se fosse, seria destrutivo - não é o caso.

Agora, a questão que fica, mesmo diante da concepção da não neutralidade da linguagem humorística, é a seguinte: E se o conceito que uma piada quiser transmitir for um sofisma? Pior: Se for um sofisma útil ao moralismo reinante? Até que ponto isso ainda pode ser considerado humor? No contexto de uma sociedade como a nossa, onde negros são oprimidos - seja por meio de ofensas, violência física ou guetificação social -, até que ponto é engraçado, por exemplo, fazer piada da posição dele nessa sociedade?

É possível fazer piada do racista - ou em outros casos do homófobo ou do explorador - como também é possível fazer piada do negro, do gay ou do morador de rua, mas a diferença é que no segundo caso você está cometendo uma atitude destrutiva dado o contexto social e histórico. A corda do humor se estica bastante, mas estou certo que isso não é humor porque se presta à humilhação. Trata-se de um sofisma destinado a afirma certo moralismo - o da suposta proibição de um negro sair com uma loira -, de acordo com o interesse da classe dominante e que se traveste da linguagem humorística para atentar contra o bom conviver. Em suma: Ele não denuncia o moralismo, ele o afirma. Enfim, trata-se de deboche, puro, simples e doloroso.

Sábado de Futebol

O Brasileirão se aproxima da sua metade e mantém o mesmo aspecto dos últimos anos: Apesar da Crise Econômica Mundial estar afetando - e muito - a Europa, os clubes brasileiros continuam perdendo jogadores para o futebol daquele continente; mais do que isso, o calendário enviesado que proporciona o início da principal competição nacional simultaneamente às decisões da Libertadores e da Copa do Brasil - e da realização da Copa das Confederações - gera lamentáveis distorções. Ao contrário de uma maratona, como é o aspecto de um nacional normal jogado em pontos corridos, o nosso Brasileirão tem feições de um Paris-Dacar, onde o vencedor é aquele que não foi vítima do Acaso.

Por ora, lidera o Palmeiras; sob o comando de Luxemburgo e ainda jogando a Libertadores, a equipe conseguiu continuar a somar pontos, mas jogava presa, amarrada, por vezes com o freio de mão puxado. Pois bem, o time é eliminado da competição latino-americana por um time inferior, mas a torcida, anestesiada pelo início de temporada tão espetacular quanto sua posterior queda de produção, até que encara isso bem. Depois da atabalhoada saída de Keirrison e a queda de Luxemburgo por ter protestado, entra Jorginho - que eu nem sabia que estava trabalhando na Barra Funda - e com um seu bom caráter, carisma e um conhecimento de futebol surpreendente de futebol acaba botando o time nos eixos; o Palmeiras faz sob seu comando a melhor sequências de jogos desde a arrancada para ganhar o Paulistão 08, com direito às maravilhosas vitórias contra o Flamengo no Maracanã e contra o Corinthians em Presidente Prudente. A pressão da diretoria e de uma parceira fazem o economista-cartola Beluzzo desdizer o que havia dito; Jorginho que teria sido efetivado depois da vitória contra o Flamengo e diante primeira negativa de Muricy, não foi e o ex-técnico são-paulino deu a sua deixa também se desdizendo e assumindo o time; mantendo, no entanto, o ex-interino em sua comissão técnica.

Dentre os méritos de Jorginho estão ter finalmente encaixado Souza no meio dando a consistência que falta na marcação/saída de bola, ter arrumado o bom miolo de zaga Maurício Ramos/Danilo que vinha muito mal e ter feito Diego Souza e Cleiton Xavier jogarem até mais do que vinham jogando. Muricy na estreia com um magro 1x0 contra o rebaixável Fluminense já sai de cara na liderança;

Por enquanto, o Atlético-MG é o time que se avizinha como provável adversário do Palmeiras na disputa pelo título simbólico do Primeiro Turno; o time foi muito bem montado por Leão no início do ano, mas se perdeu numa semana infernal onde tomou duas inesperadas sarrafadas: A primeira de seu arquirival Cruzeiro no primeiro jogo da final do Mineiro e a outra do improvável Vitória na Copa do Brasil. Leão cai e um Celso Roth, esquisitão e inexplicável que só ele, assume o time que incia bem o Nacional. Quinta, o time tomou um cacete do Flamengo no Maracanã e perdeu a ponta do torneio. Faltou pegada na marcação e apesar do gol logo de cara, o resto do jogo foi um massacre.

Um ascendente e surpreendente Goiás completa a lista assim como um Inter que parecia que ia repetir 06, mas parece estar repetindo 07. Fora isso, no momento, o Flamengo parece bem cotado para subir de posições assim como Grêmio e Cruzeiro tendem a subir na tabela.