quarta-feira, 2 de junho de 2010

Frei Betto na PUC




Ontem à noite, Frei Betto, um dos grandes nomes da Teologia da Libertação no Brasil, esteve na PUC, em um evento promovido pela Faculdade de Serviço Social, falando sobre a história dos movimentos sociais brasileiros. Goste-se ou não dele, sua atuação é das mais relevantes na esquerda católica nacional - e tal ala é, sem dúvida, das mais importantes da esquerda nacional. Muito embora o grande expoente da TL no Brasil  seja mesmo Leonardo Boff, Frei Betto não deixa de ter sua importância, especialmente por ter tido - e ainda ter - uma militância mais ativa do que o colega no campo político - embora nenhum dos dois possa ser apontado, de forma alguma, como intelectuais refratários ou militantes acéfalos, creio que Boff sempre se destacou mais na produção teórica e Betto na prática. Basicamente, a exposição de pouco mais de uma hora, de certa forma, dialogava com o que o André Singer anda fazendo: Tentar explicar as causas que levaram Lula ao poder e assim tentar construir uma avaliação mais ou menos crível do período atual e do que será para frente.


Longe do estilão científico de Singer que, em seu artigo, aponta para a hipótese de que Lula foi eleito por conta da guinada à direita que deu e da forma como passou a dialogar com um substrato desorganizado do proletariado - o que ele define como sub-proletariado -,, o que, na prática, equivale a dizer que o "lulismo" é uma espécie soft de bonapartismo -, Frei Betto constrói uma explicação narrativa para a chegada de Lula ao poder, muito embora não busque explicar o "lulismo": Para o frade dominicano, Lula chegou ao poder por conta do acúmulo de forças dos movimentos sociais ao longo do tempo - desde as organizações católicas até os sindicatos. Fora isso, eu senti um Frei Betto bastante diferente daquele eu vi palestras há três anos atrás: Naquele momento,  logo quando tinha acabado de esrever a Mosca Azul, livro que narrava sua experiência no Governo Lula, sua posição era francamente pró-PSOL e amargamente decepcionada com o Governo atual, enquanto hoje, talvez aquele anti-petismo mais enfático fosse fruto de dois anos de tensionamentos pessoais extremamente desgastantes, agora, ele se mantém cético com o PT e também pulou do barco do PSOL.


Fiz uma pergunta sobre o otimismo dele em relação ao ponto da política externa no que toca à integração latino-americana: Frei Betto passou um bom tempo da palestra dissertando sobre a futura União Latino-Americana Caribenha, mas eu dei uma cutucada sobre as limitações disso, haja vista que a submissão atlantista só foi rompida na nossa Política Externa no governo atual - mais até do que isso, o candidato da oposição faz um pregação absurda contra tudo que foi construído. Em suma, será que todo esse processo não seria ainda frágil demais? Na resposta, ele tergiversou um pouco, mas o ponto é esse: O grande consenso da esquerda é de que a única área em que houve uma quebra de paradigma pelo atual governo foi mesmo na política externa, muito embora, isso como muitas outras coisas, sejam política de governo e não qualquer consenso que construa uma política de Estado, o que aqui, pela natureza da área, dependeria mesmo de um auto-convencimento do outro lado, mas em tantas outras áreas, faltaram reformas estruturais mesmo.


Não sei, no entanto, se eu concordo com a tese dele sobre as causas que levaram Lula ao poder. Um ponto que Singer coloca com propriedade no seu trabalho, apesar de algumas coisas que eu discordo, é que os anos 90 provocaram um arrefecimento nas lutas sociais devido ao desmonte do sistema produtivo, em suma, ainda que os movimentos sociais permanecessem em pé, sua força estava duramente reduzida. Também não concordo que eventuais recuos tenham sido o cerne da eleição do atual mandatário em 2002 - e nisso eu concordo com Frei Betto -, mas eu atribuiria a causa da tal fenômeno ao fato de que o PT finalmente largou um vício da esquerda brasileira: Parou de discursar para si e passou a considerar a possibilidade de ser fazer compreender para as pessoas que visava atingir com alguma criatividade. Fora isso, fica a imagem de um cara que lutou bastante, sofreu para caramba, sofreu uma baita decepção quando pensava que daria para virar o jogo, mas, em que pese seus defeitos e limitações, está do lado certo da briga - e que muito provavelmente vai de Dilma em Outubro, com justificado ceticismo.



Um comentário:

  1. Acho que valia desenvolver mais esses dois pontos de vista; um pouco contraditorios sobre o mesmo "fenomeno". A sua percepção tangencia pontos interessantes que - pelo seu estilo de analise - contribuirá para além de biografia dos teólogos e do cientista social .
    AndreB

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