domingo, 26 de setembro de 2010

Eleições Paulistas: O Avanço de Mercadante

O atual cenário da disputa política em São Paulo decorreu de uma construção perturbadora. As incertezas internas no PT - e um processo atabalhoado de escolha do candidato governista em São Paulo - confluíram com um racha no PSDB, expresso na escolha de Alckmin a contragosto da ala serrista do partido, e diante do seu próprio desgaste, provocaram um quadro curioso. Os tucanos, com a vantagem de controlarem a máquina há quinze anos e de uma certa popularidade em São Paulo, procuraram esvaziar o debate com o auxílio da sempre mui amiga mídia corporativa: Esfriava-se o debate no sentido de focar nas eleições nacionais e, também, para deixar o eleitorado menos preocupado possível com as eleições estaduais e, assim, deixar a decisão sobre quem votar para Governador para última hora, fazendo prevalecer o voto no candidato mais conhecido, portanto, Alckmin

Não era interessante levantar a questão logo porque Mercadante levaria vantagem sobre o candidato governista na medida que lhe supera na oratória e, sobretudo, porque se num debate frio o fato de Alckmin o eleitor tende a votar por repetição de memória, num debate quente, quem tem mais desgaste - e Alckmin tem, para além dos defeitos dos vários governos tucanos - leva desvantagem. O ponto, como levantamos por aqui há um mês, é que vários fatores da campanha presidencial expuseram - e aprofundaram - as falhas do PSDB - e falo de itens como o esgotamento do seu projeto e seus rachas internos -, tendo impacto sobre as campanhas estaduais. Isso teve a ver com os méritos de Dilma e os deméritos de Serra, mas o fato é que há um mês, o candidato tucano à Presidência foi deixado só com seu staff na disputa enquanto a estrutura tucana se voltou para garantir vitórias nos estados - sobretudo em São Paulo.

São Paulo, ao contrário do que se supunha fora do estado, ainda estava - como está mais do que nunca - em disputa. O programa eleitoral de Mercadante, no início de Setembro, no entanto, não conseguiu esquentar o suficiente a corrida para o governo do estado. Isso começou a mudar com seu bom desempenho nos debates, muito embora o resultado de debates seja a espécie da coisa cuja transmissibilidade em intenções de votos seja não só lenta, como incerta. Ademais, o PT falhou em construir uma oposição firme ao PSDB no plano estadual, o que fez com que a candidatura Mercadante chegasse precisando compesar certo "atraso". A afirmação da candidatura Dilma, no entanto, produziu efeitos interessantes ao conseguir romper certas barreiras em São Paulo - o que foi surpreendente, apesar e se esperasse seu desempenho fossem bom -, o que ajudou a puxar votos em Mercadante e a pôr na ordem do dia o debate sobre as eleições estaduais.

Somado a isso, veio interferência direta de Lula em favor de Mercadante, o que assustou assustou Alckmin e fez com que o candidato petista passasse a se impor até melhor. A campanha de Alckmin que se já não é boa, ainda conta com a má vontade de parte expressiva do partido - e de seus aliados - no estado teve de partir para o ataque para segurar o adversário e aí o jogo começou mesmo - talvez um pouco mais tarde do que deveria. O resultado é que ontem uma pesquisa Vox Populi confirmou um movimento que a IPESP já tinha antecipado: Alckmin caiu de 49 pontos para 40 e Mercadante passou de 17 para 28; A soma geral dá 40 a 40, ou seja, está pintando um Segundo Turno no estado - o que é uma hipótese com a qual eu trabalhava e não é nada anormal levando em consideração que Dilma está com 43% no estado enquanto Marta e Netinho para o Senado têm algo em torno de 35% das intenções de voto. 

A disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, como já disse, é chave para a sobrevivência do PSDB, mais até do que o eventual resultado para a Presidência da República pelas atuais circunstâncias, portanto, esse debate é digno das maiores atenções. O ponto é que agora, o PT está mais vivo do que nunca na disputa.





8 comentários:

  1. São Paulo vai se transformando no tambor político do Brasil,como ficou patente no recente ato político de repúdio ao golpismo midiático, na inauguração da Televisão do Trabalhador no ABC,no histórico comício de Campinas.
    Essa efervescência permite antever alterações significativas no quadro político do Estado de São Paulo e confirmam a sua excelente análise.
    Daqui do Rio torcemos para que Mercadante vá para o segundo turno e que possa vir a ser vitorioso.
    Maria Lucia

    ResponderExcluir
  2. Maria Lúcia,

    Agora o bicho tá pegando: Essa pontada de Mercadante caiu como uma bomba no noticiário político daqui. Isso muda tudo porque interfere até mesmo no plano B que os tucanos desenvolveram no caso da candidatura Serra não emplacar. A ideia era garantir São Paulo e mais alguns estados, atacar nas presidenciais por meio da mídia e fazer, quem sabe, um esforço final nesta semana lá em cima - dentro de uma realidade na qual São Paulo já estivesse garantido; o ponto é que tal posição não está mais segura. O PSDB pode até continuar existindo sem a Presidência (ainda que precariamente), mas não sem, ao mesmo tempo, ela e o Governo do estado de São Paulo, portanto, haverá um esforço grande para eleger Alckmin e isso é bom para Dilma, o esforço final será aqui, no plano estadual e não mais no plano nacional - até porque não será prudente associar a figura de Serra, que está sendo derrotado no estado, com a de Alckmin, o candidato a se eleger. A militância petista tenderá a se animar mais ainda. Como eu já disse por aqui, se der Segundo Turno - e é bem provável que dê -, muda tudo - e o terreno se torna minado para os tucanos.

    beijos

    ResponderExcluir
  3. Hugo e Maria Lucia,

    Eu também espero, de coração, que o Mercadante vá para o segundo turno, mas estou bastante apreensivo quanto a isso.

    Eu confesso que não gosto da companha do Mercadante, acho seu programa na tv muito ruim, ao contrário do programa do Alckimin, que consegue tocar as pessoas. A propaganda gratuíta do tucano é otimista, pra cima. Tem baixarias também, como os ataques ao Mercadante _ prova de que não está seguro de vercer no 1º turno _, mas no geral as pessoas gostam, querem acreditar que tudo aquilo que é mostrado na tv seja verdade: Escolas bonitas, hospotais e postos de saúde sem filas, medicos e enfermeiras que atendem a todos com sorriso nos lábios, alunos que aprendem, favelas que se transformam em belos e aprazíveis bairros, metrô pra todo lado. Um mundo encantado, uma maravília! É tudo mentira, mas as pessoas gostam de acreditar que seja assim.

    Já o Mercadante usa e abusa de imagens escuras, um jingle que "pelamordedeus"! Explora sempre os mesmos temas: crack, aprovação automática nas escolas. E ainda confunde Progressão Continuada _ que em São Paulo só existe no papel _ com Promoção Automática _ e o Alckmin está sabendo tirar partido disso. O Mercadante não traz novidades, não ousa, não anima, e ainda pede que os eleitores lhe dê uma chance.

    Olha, desejo, para o bem de São Paulo e dos paulistas, que haja 2º Turno, mas se houver, deseja mais ainda que o Mercadante mude os rumos da sua campanha, se não, vai dar Alckmin (toc toc toc, três batidas na madeira).

    Abraços!

    ResponderExcluir
  4. Edu,

    Acho que você tá sendo um pouco pessimista com tudo isso, a campanha não é ruim e o desempenho nos debates foi bom. Também existe toda a questão do boca-a-boca e da identificação das pessoas com o projeto petista, o que faz dar um voto de confiança para ele. Se a campanha de Alckmin está tão boa, por que ele teria caído tanto? Acho que o buraco dessa campanha é mais embaixo. Se a candidatura petista tivesse sido construído há mais tempo, creio que a coisa seria outra.

    abraços

    ResponderExcluir
  5. Hugo,

    Espero que você esteja certo e eu errado.

    Estou pessimista, mesmo. É impressioante a quantidade de professores e policiais (eu transito nos dois meios) que abraçaram o discurso do Alckmin. O Serra é odiado, mas o Alckmin é mencionado até com certo carinho. Ainda não consegui entender por que.

    ResponderExcluir
  6. Edu,

    É uma questão de discurso, meu querido. Uma das questões mais chocantes para Spinoza - e tema central do Tratado Teológico-Político - é a questão da servidão voluntária - sim, pensar em dominar os outros ou não ter consciência da sua própria dominação são questão relativamente simples, mas pensar em quem aceita se submeter é, convenhamos, um enorme nó górdio. Ele chega à conclusão que isso se deve ao fato de que as pessoas estarem sujeitas ao discurso - e de como ele próprio as afeta intrinsecamente. Séculos mais tarde, Deleuze vai trabalhar a mesma questão e a explicação que ele elabora está no seu conceito de desejo, que é tributário de Spinoza, mas também de Marx: Isso seria uma síntese passiva que não decorre da necessidade, mas sim é seu elemento produtor.

    Curiosamente, a ideia da existência da servidão voluntária - isto é, fazer algo ou votar a favor de alguém que não me favorece - trata-se da mesma razão pela qual podemos dizer que o argumento central do liberalismo é falso - mais do que isso falseador - e porque tal sistema vive às voltas com sua própria disfuncionalidade. A direita brasileira, tal e qual os poderosos da Idade Média, sempre se alimentou - como se almenta - de superstições - ou seja, um conjunto de ideias equivocadas que se devem ao medo, uma triste causada por um acontecimento incerto - em relação ao PT. Isso é construído no programa eleitoral, por meio de seu auto-falante midiático, por meio de correntes de e-mail etc etc. Como combater isso? Apenas construindo uma organização que esteja conectada junto à coletividade e aos seus movimentos, o que é mais ou menos o que o PT é e, não por acaso, ele é a única força capaz de se opor a isso. Nem sempre ele o faz. Em São Paulo, por exemplo, sabemos que o processo de articulação da oposição e da própria construção da candidatura não foi boa, o que abriu espaço para o PSDB se fortalecer usando desse discurso descrito.

    Eu creio que a diferença de tratamento dispensada pelo eleitorado paulista em relação a Serra e a Alckmin se deva ao fato deles estarem disputando eleições em planos diferentes; enquanto o primeiro está confrontando diretamente a pessoa de Lula e seu projeto, o segundo se finge de morto diante dessa tensão. Isso, pelo jeito, começou a dar errado como as pesquisas estão apontando. O jogo político nacional passou a interferir em São Paulo e agora a candidatura Alckmin terá de adotar um plano B que não lhe é confortável, porque o eleitorado passou a reconhecer que existe disputa.

    abraços

    ResponderExcluir
  7. Hugo,

    Algo como a Sindrome de Estocolmo, hehehe... É bem por ai.

    ResponderExcluir