quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Cúpula do G-20 de Seul -- Início

Teve início hoje a Quinta Cúpula do G-20 realizada na capital sul-coreana, Seul. Em um primeiro momento, a simples realização de uma cúpula envolvendo as vinte maiores economias do mundo já ilustra um novo mundo em emergência (e de emergentes também): O arranjo internacional pós-Guerra Fria que apresentava a liderança estratégica incontestável dos EUA com a presença subsidiária das potências econômicas da Europa, o Japão e o Canadá - somados à Rússia pelo seu poder militar residual da URSS - caiu mesmo por terra. Mais do que esse processo, que já se avizinhava de maneira clara nos anos 90, a Crise Econômica Mundial, que eclodiu nos EUA e contaminou todo o sistema mundo, catalisou o processo de transformação de maneira aguda. No atual momento, a conjuntura mundial se expressa pela grave crise político-econômica dos EUA e o questionamento em relação ao futuro da União Europeia, ao passo que China, Índia e Brasil se impõem cada vez mais neste cenário - e de forma mais específica, o principal tópico da cúpula será a guerra cambial em curso, na qual os EUA, para manter sua política fiscal irresponsável, desvaloriza sua moeda (por sinal, ainda a principal moeda do Globo), o que traz junto o Yuan chinês, ameaçando de maneira grave o equilíbrio da balança comercial europeia e, inclusive, da brasileira. Trata-se de uma reunião tensa que irá trazer à baila de um dos problemas mais complexos do nosso, a construção de um arranjo político econômico internacional para uma realidade na qual o Dólar Americano se inviabiliza enquanto moeda hegemônica por conta dos próprios rumos do país que lhe emite. 


Lula chega fortalecido à Cúpula, seja pela situação do Brasil diante do mundo ou pela vitória que seu projeto político novamente obteve nas urnas - e seu trófeu, Dilma Rousseff, sua sucessora feita, marca sua presença no último grande evento internacional com Lula na chefia de Estado do Brasil. Não há pouco o que negociar e o assunto chave da cúpula, como dito, nos interessa direta e profundamente. Um Real sobrevalorizado resulta, irremediavelmente, em uma balança comercial menos favorável e, consequentemente, em menos espaço de manobra para o Estado induzir o crescimento econômico ou mesmo bancar projetos sociais essenciais. É inegável que o ajuste que o Brasil necessita passa por uma série de ajustes internos que o Governo não pode mais protelar, mas o componente externo também representa uma parte fundamental da história. Os chineses, fortalecidos pela crise e, ao mesmo tempo. em um período de alteração na correlação de forças interna - com a ascensão do grupo de Xangai - são figuras essenciais na reunião. Obama estará em xeque, tanto pelo resultado amplamente desfavorável nas eleições legislativas quanto pela posição dos EUA no Mundo - que ele contribui em manter em fragilização, dada a total inércia com a qual o seu Governo conduz a política externa, tornando-se cada vez mais incapaz de ser o protagonista da reconstrução do sistema mundial, posição que parecia irremediavelmente sua quando derrotou os republicanos há dois anos. É questão de manter os olhos bem fixos no que se desenrolará pelos próximos dias na capital sul-coreana.

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